terça-feira, 8 de novembro de 2011

A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO PAÍS

Os dirigentes do Ministério da Educação revelaram, agora em novembro de 2011, que, em dez anos, dobrou o número de estudantes nas universidades - 3 milhões em 2001 e 6.3 milhões em 2011. Reconheceram ainda que 15% dos alunos fazem parte do chamado Ensino a Distância (EaD).
Apesar do auto-elogio da propaganda oficial, é importante lembrar que trata-se de um discurso que destaca o aspecto quantitativo, quando o principal problema no setor diz respeito exatamente à questão da qualidade. Entretanto, não existe debate algum nesse sentido.
O resultado desta omissão pode ser percebido, por exemplo, na fala dos empresários. Eles reclamam do nível dos profissionais formados nas universidades brasileiras. Dizem que ocorre uma "apagão de talentos" no país e que seria necessário importar mão-de-obra.
Neste momento, cabe uma pergunta: o que é, de fato, o ensino superior no Brasil? Todos reconhecem que a maioria, atualmente, estuda em instituições particulares, normalmente em cursos noturnos.
Se na época do governo Fernando Henrique Cardoso, no setor educacional, o que mais chamava a atenção era o "Provão" - sistema de avaliação da educação superior, que ameaçava fechar as escolas que não apresentavam qualidades mínimas de ensino -, na administração Lula, o destaque foi dado para o ENEM, que, inicialmente seria para avaliar o ensino médio e depois tornou-se um instrumento para a seleção de estudantes para as universidades federais. Houve, de fato, uma mudança de foco na educação.
No governo Lula, para o ensino superior, houve, de um lado, a expansão de vagas nas instituições federais e, de outro, um "silêncio" quanto à avaliação das faculdades particulares. O resultado foi a demissão em massa de mestre e doutores. Em um artigo publicado na revista Caros Amigos (n. 120), em 2007, Alanna G. Garcia Alaniz afirmava: "Nos últimos dois anos, a cada fim de semestre, surtos de pânico acometem o corpo docente das instituições particulares de ensino superior. É que esse é o período de "tiro ao doutor' ."
Além disto, os representantes das instituições particulares defendiam que a universidade não precisava tratar de pesquisa, ensino e extensão, que isso só deveria acontecer em casos específicos. Ou seja, no geral, as instituições deveriam ter como função exclusiva o ensino. Isso, claro, comprometeu ainda mais a qualidade dessas escolas.
Outro ponto foi o avanço do EaD, aproveitando as novas regras da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996. Na prática, não havia só cursos a distância - ou semi-presenciais -, mas também várias disciplinas, dentro das faculdades, como Antropologia, Sociologia, Economia e Metodologia, passaram a ser oferecidas seguindo esse modelo. Nestes casos, não era necessário mais a existência de um educador dentro de uma sala de aula.
A LDB de 1996 possibilitou a criação da figura do centro universitário, que, como as universidades, teria uma maior autonomia, podendo, por exemplo, criar cursos e remanejar vagas, mas sem precisar desenvolver atividades de pesquisa e de extensão. Se até 1997, os donos das faculdades particulares investiam na contratação de mestres e doutores, na melhoria das bibliotecas e dos laboratórios, visando a transformação em uma universidade, depois daquele ano, todo esse esforço não seria mais necessário na medida em que tornar-se centro universitário seria algo mais vantajoso. Isso explica, em parte, a desvalorização dos professores-doutores.
Assim, com a demissão de mestres e doutores, o fechamento de cursos de mestrado e o abandono das atividades de pesquisa, os proprietários das instituições particulares poderiam oferecer cursos com mensalidades mais baixas (e qualidade duvidosa), contratando profissionais recém-formados - sem mestrado ou doutorado - para o corpo docente.
O resultado está aí. As lideranças brasileiras não deveriam apenas reclamar do "apagão de talentos", mas deveriam principalmente compreender como tudo isso aconteceu e, a partir desse esclarecimento, apresentar alternativas sérias visando a melhoria da qualidade do ensino superior no país.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

PODEROSOS INTOCÁVEIS

Nos programas populares sobre crimes e na linguagem dos policiais aparecem duas palavras fundamentais e opostas: trabalhador e malandro. O indivíduo seria uma coisa ou outra.
Uma das chamadas do Jornal Nacional em 1° de novembro de 2011 foi: "sobram vagas para os empregos temporários de fim de ano".
Em outras palavras, de acordo com os meios de comunicação de massa, só não trabalha quem não quer. O mercado faz a sua parte e oferece os empregos e caberia ao trabalhador decidir se aceita ou não. A escolha do trabalho seria uma decisão pessoal do indivíduo. Logo, se ele encontra-se desempregado, a culpa seria dele, que seria um malandro que desejaria só vida boa, ou seja, um irresponsável que não faz nada.
De fato, no capitalismo, quem não trabalha, estaria errado. "(...) A figura do homem trabalhador representou o ideal desta sociedade. Resta-nos perguntar: o que irá acontecer quando (...) à sociedade do trabalho, faltar o trabalho?" (Dahrendorf apud Masi)
É o que ocorre atualmente, após a revolução tecnológica dos computadores pessoais e a consolidação do processo de globalização.
A questão é avaliar até quando a ideologia dos meios de comunicação de massa conseguirá disfarçar um problema que é estrutural, do próprio modo de produção capitalista, e ainda colocar a culpa de tudo (individualmente) no trabalhador?
No discurso das elites, bastaria o indivíduo estudar, realizando um curso técnico ou uma faculdade, e ele teria o seu trabalho. Mas não existem empregos para todos!
Além disto, "a segurança provida pelos diplomas diminuiu, as aposentadorias estão ameaçadas e as carreiras já não se acham garantidas. (...) O vento virou e, para fugir dele, as multidões superqualificadas já mendigam funções obscuras dos quadros administrativos." (Corinne Maier, p. 16)
Perceber que existe algo errado não é difícil. O problema é a força da ideologia e dos meios de comunicação de massa, aliada a uma tendência do ser humano em fugir da realidade. O indivíduo dito normal, aquele da maioria, tem medo de si, do outro, do futuro... Precisa da fantasia, da novela diária, de acreditar que trabalhando ou estudando a semana inteira, será feliz no fim de semana...
Neste contexto, existem aqueles que se consideram os "poderosos intocáveis" (PI): são os indivíduos que enganam os outros, manipulam, se acham superiores, imbatíveis e acreditam que nunca serão derrotados. É comum encontrá-los entre os políticos.
Adolf Hitler tinha praticamente o controle de toda a Alemanha. Acreditava que pertencia a uma raça superior. Foi derrotado na Segunda Guerra Mundial. Suicidou. Recentemente, Suddam Hussein, controlava o seu país, o Iraque, atacou o Kuwait, desafiou a maior potência mundial. Foi preso (num buraco, com mais de 800.000 dólares), julgado e enforcado. Quem poderia imaginar que um dia Muamar Kadafi, após 42 anos no poder, seria preso em um esgoto, torturado e assassinado por seus opositores? Apesar de acreditar no domínio que tinham sobre seu povo, os três ditadores foram derrotados sobretudo por causa de um inimigo externo. E quando esse inimigo não ataca e o político acredita que possui o controle do seu povo? Trata-se do caso de Hugo Chávez, há mais de 10 anos no poder na Venezuela, mas, recentemente, descobriu que estava com câncer de próstata.
Mas, então, quem é imbatível, intocável? Quem vence? "Stalin dizia que, no final, é sempre a morte que vence." Ou seja, um dos maiores ditadores do século XX, pelo menos sabia de sua limitação - coisa que muitos indivíduos não perceberam ainda...

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

EDUCAÇÃO, TELEVISÃO E NOVAS TECNOLOGIAS

Prof. Dr. Selmane Felipe de Oliveira

Ao longo dos "recentes séculos", a educação infanto-juvenil ficou a cargo, primeiro, da igreja, depois, da escola, e, finalmente, da mídia, em especial a televisão.
No Brasil, a televisão, a partir da criação do que seria a Rede Globo, na década de 1960, teve um papel importante de "integração nacional". As imagens da TV chegariam onde as rodovias e as ferrovias não conseguiram penetrar.
O problema inicial foi o contexto desta expansão. Havia uma ditadura militar no país. A Globo tornou-se, na época, quase uma porta-voz do Estado. Na medida em que a valorização da escola sempre foi um problema grave no Brasil, a maioria passou a buscar as informações na televisão. O aparelho virou o centro da casa e toda residência tinha uma TV. Era ali que se encontrava diversão, noticiário e esporte. O que não aparecia era assuntos relacionados à política, por ser um momento de ditadura. Existia ainda uma censura aos meios de comunicação, o que complicava ainda mais o processo.
A televisão, nas décadas de 1960 e 1970, funcionava como uma aparelho ideológico do Estado brasileiro, tratando de interesses da elite social. A frase pode parecer um velho dogma comunista, mas a realidade era essa. Ela jamais poderia ser considerada um instrumento de educação e esclarecimento para a população.
Com o fim da ditadura militar em 1985, o país mudou, mas a Globo continuou hegemônica. As eleições para presidente da República tornaram-se diretas, houve um revezamento de partidos políticos no poder e o país começou a participar mais ativamente do processo que viria a ser denominado "globalização". 
Com tal processo, a revolução tecnológica - com a criação do Computador Pessoal e da Internet (comercial) - passou a ser vista como uma ameaça a hegemonia da televisão, sobretudo após da década de 1990. Atualmente, os telefones celulares, com internet e redes sociais, influenciam transformações populares importantes, tanto em países como Egito, Líbia, Síria como Chile e Espanha. Estas transformações são lideradas por jovens.
Se havia um monopólio da informação com a televisão, o que criava um telespectador passivo diante de uma tela, com o computador, o celular e a internet, o processo foi outro, pois todos produziam e trocavam as notícias. O monopólio foi quebrado. A televisão, naquele modelo antigo, é uma ferramenta em extinção. Neste sentido, as novas tecnologias, apesar de todas as limitações, contribuíram mais para a educação das crianças e adolescentes do que as tentativas anteriores, não só pensando nos casos do rádio e da televisão, mas também nos papéis assumidos pela igreja e pela escola.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

ESCRITOS & BLOGS

Tenho escrito textos opinativos desde 2010. A minha irmã me deu a idéia, afirmando que se falasse sobre as minhas experiências, eu poderia ajudar os outros. Inicialmente fui contra a idéia. Aliás, isso me lembra uma cena de "Californication", quando Hank - um escritor - ouve do seu agente que ele deveria um "blog". Ele recusa.
Existe uma história em quadrinhos de W. Ellis, D. Robertson e R. Ramos chamada "Transmetropolitan" (Vertigo, May 2000, p. 20) que, na conversa de duas garotas, uma afirma: 
"What sucks about my job is that I never expect it to 'matter'. I mean you've studied journalism too. You 'know' writers like spider aren't supposed to make any difference. They're not even relied upon to be 'right'. They're 'opinion' writers."
Sim, os textos opinativos são vistos como artigos "menores". Isso acontece pois não existe um trabalho minucioso de pesquisa. Trata-se basicamente de uma opinião (e cada um tem a sua, claro).
Enfim, após pensar sobre a idéia da minha irmã e, como afirmei em outro texto, influenciado por um depoimento de Henry Miller - "mas eu não vou parar de escrever, pelo menos vou querer me divertir com isso" pela leitura de "Mitologias" de Roland Barthes, mudei de idéia e comecei a escrever textos opinativos sobre vários temas. Publico-os em "blogs" e no meu "website". 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

LOU ANDREAS-SALOMÉ, HANNA ARENDT & SIMONE DE BEAUVOIR

Michel Foucault já destacava Marx, Nietzsche e Freud como os três pensadores mais influentes do século XX.

Quando penso em mulheres marcantes, penso em três nomes: Lou Andreas-Salomé, Hanna Arendt e Simone de Beauvoir.

Lou Salomé recusou o pedido de casamento de Nietzsche. Era amiga de Freud.

Hanna Arendt, judia, teve um caso com o seu professor, Heidegger, indicado pelos nazistas para ser reitor de uma universidade. Heidegger era leitor de Nietzsche. A irmã de Nietzsche cedeu seus trabalhos para os nazistas.

Em outra perspectiva, encontra-se Simone de Beauvoir. Não seria possível entender o movimento feminista sem estudar as suas idéias. Ela manteve uma longa relação amorosa e intelectual com Jean-Paul Sartre, que era leitor sobretudo de Karl Marx.

Discutir com pensadores como Nietzsche, Freud, Heidegger e Sartre. Ainda assim, manter uma independência na hora de criar a sua própria teoria. Precisa dizer mais sobre essas três mulheres?

segunda-feira, 30 de maio de 2011

TAOÍSMO E BUDISMO

Atualmente, a concepção religiosa do mundo ocidental está baseada nas visões do judaísmo e, sobretudo, do cristianismo. Historicamente, foram produzidas outras religiões nos países orientais, como a China e a Índia. Dois exemplos seriam o Taoísmo e o Budismo.

São duas concepções diferentes e a mesma busca pelo bem-estar do homem. O "Taoísmo defende o 'deixa-estar' ['let-it-be'] (...) e um estilo de vida caracterizado (...) pelo cultivo da tranqüilidade." O Budismo "parte da idéias de 'samsara' (o ciclo do renascimento) e de 'karma' (conseqüências dos atos), e tenta encontrar um caminho para escapar do ciclo do renascimento. A fonte dos problemas (...) seria o desejo por riquezas, poder, prazer e assim por diante. Para eliminar esses desejos, nós deveríamos seguir o 'oitavo caminho' (eightfoldpath) e aceitar que a existência não é satisfatória nem permanente, (...) que tudo é transitório e que tudo depende de tudo no universo." [Charles Guignon (ed.) The Good Life, p. 1 and 73]

De um modo geral, filosofia e religião não são claramente separadas em muitas teorias orientais. A busca de respostas para a existência seria o eixo das duas concepções.

Pressupostos teóricos do oriente aparecem em filosofias e religiões ocidentais. O incômodo é o mesmo: a existência. Não existe uma resposta definitiva. Tanto no oriente como no ocidente, as teorias servem como parâmetros para melhorar o cotidiano das pessoas. Uma busca por uma resposta "absoluta", diante da angústia da condição humana, parece ser razoável. Mas, nesse caso, trata-se de fé e de uma escolha pessoal de cada indivíduo.

sábado, 28 de maio de 2011

O MEDO DO PASSADO

Atos comuns podem revelar algo que o indivíduo não tem consciência, por causa de resistências internas criadas por ele mesmo (ver Freud). Pode ser um trauma de infância ou algum problema grave que ele gostaria de "apagar" da sua memória.

No entanto, isso não acontece. Na vida adulta, o fato "omitido" pode retornar na mente da pessoa. Assim, surgem problemas que não são identificados de imediato, na medida em que existe uma recusa do indivíduo em admitir o trauma. Muitos conhecem as conseqüências deste processo, sobretudo no que se refere à insônia ou à falta de apetite.

Em suma, esquecer não é solução. Adiar não significa resolver. Talvez seja mais saudável admitir que derrotas e rejeições fazem parte da vida de qualquer pessoa.

O SER HUMANO

Pensar a condição humana é fundamental?

"Aprés quelques décennies passés sous le signe de 'la mort de l'homme', le travail qui s'ouvre aujourd'hui à la philosophie semble être de redonner une place plus essentielle à l'être humain." (Jacques-Emile Miriel, Magazine Littéraire, n° 394 p. 89):

De um ponto de vista geral, a humanidade não tem importância. Freud já afirmava que a sua extinção não representaria uma grande perda.

Por outro lado, Miriel chama a atenção sobre a necessidade de um retorno ao debate sobre o ser humano.

Seria como admitir a insignificância do homem, mas, ao mesmo tempo, reconhecer que ele não teria outra alternativa a não ser pensar sobre a sua condição. Parece algo dito por Sartre.

ÉTICA, PSIQUIATRIA E TELEVISÃO

Um psiquiatra conversa com o paciente e em seguida recomenda medicamentos para aliviar a dor. O psiquiatra lida com a emoção, algo que não aparece em exames. Ele indica o tratamento a partir da fala do paciente. É um jogo de acerto e erro. Se tal remédio não resolve, deverá ser adotado outro.

É interessante perceber que algo "não material" como a emoção, gera conseqüências reais no corpo humano. Uma vez, vi uma matéria na televisão na qual aparecia uma expressão: "síndrome do coração partido". Era dito que raiva, tristeza e estresse causam problemas no coração e pessoas ansiosas e com depressão teriam maior chance de infarto (ele seria resultado de pico de fúria de estresse). As respostas para alterar tais situações seriam conversas com amigos, rir e a ênfase em bons sentimentos.

A matéria na televisão, aparentemente, trata de coisas óbvias. No entanto, o método do psiquiatra para indicar os remédios não é baseado em exame de laboratório ou outra evidência científica. Mais do que a formação do médico, a sua postura ética é fundamental para que o resultado seja positivo. Nem sempre isso acontece. Existem as pressões dos laboratórios para vender os seus caros anti-depressivos. Ocorre ainda "o amor pelo dinheiro", que leva o psiquiatra a colocar os objetivos profissionais num segundo plano. Não é por acaso que vemos na televisão, algumas vezes, a prisão de médicos envolvidos em casos de corrupção.

A televisão funciona como um aparelho ideológico (Althusser). O papel da psiquiatria na história da loucura é questionável (Foucault). A atuação do psiquiatra, na atualidade, deve ser problematizada. O fato de ter feito uma faculdade e falar em nome da ciência, não garante que o médico esteja do lado da verdade.
Um psiquiatra conversa com o paciente e em seguida recomenda medicamentos para aliviar a dor. O psiquiatra lida com a emoção, algo que não aparece em exames. Ele indica o tratamento a partir da fala do paciente. É um jogo de acerto e erro. Se tal remédio não resolve, deverá ser adotado outro.

É interessante perceber que algo "não material" como a emoção, gera conseqüências reais no corpo humano. Uma vez, vi uma matéria na televisão na qual aparecia uma expressão: "síndrome do coração partido". Era dito que raiva, tristeza e estresse causam problemas no coração e pessoas ansiosas e com depressão teriam maior chance de infarto (ele seria resultado de pico de fúria de estresse). As respostas para alterar tais situações seriam conversas com amigos, rir e a ênfase em bons sentimentos.

A matéria na televisão, aparentemente, trata de coisas óbvias. No entanto, o método do psiquiatra para indicar os remédios não é baseado em exame de laboratório ou outra evidência científica. Mais do que a formação do médico, a sua postura ética é fundamental para que o resultado seja positivo. Nem sempre isso acontece. Existem as pressões dos laboratórios para vender os seus caros anti-depressivos. Ocorre ainda "o amor pelo dinheiro", que leva o psiquiatra a colocar os objetivos profissionais num segundo plano. Não é por acaso que vemos na televisão, algumas vezes, a prisão de médicos envolvidos em casos de corrupção.

A televisão funciona como um aparelho ideológico (Althusser). O papel da psiquiatria na história da loucura é questionável (Foucault). A atuação do psiquiatra, na atualidade, deve ser problematizada. O fato de ter feito uma faculdade e falar em nome da ciência, não garante que o médico esteja do lado da verdade.

FILOSOFIA DE BAR: EXISTÊNCIA

O que caracteriza um indivíduo é a sua incapacidade de lidar com a existência. Ele não nasce, ele é jogado na vida (John D. Biroc) sem saber o por quê. Sabe que morre e só. Deixa de existir? Existia antes?

Ele nada sabe sobre a vida. Mas, nas suas relações sociais, incomoda e marca os outros, de maneira consciente ou não. Assim, vive "nos outros".

Perde, portanto, o controle de sua vida, pois ela passa a "estar" na memória dos outros. Nesta perspectiva, nem o próprio indivíduo com o suicídio poderia destruir a si mesmo.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

GERAÇÃO SANDY

A geração pós-guerra foi chamada de "baby boomers". Eu sou da chamada geração X. Depois vieram as gerações Y e Z. E daí?

Cada geração apresenta características próprias. Na década de 1990, foi apresentada uma série "Anos Rebeldes" (década de 1960), que, por tratar da rebeldia contra o regime militar, influenciou o movimento dos jovens conhecido como "caras pintadas", cuja meta era o "impeachment" do presidente Collor.

Atualmente, a referência é o filme Tropa de Elite, o que demonstra o conservadorismo e individualismo dos jovens. Muitos não sabem o que seria inflação. Nasceram depois disto. Não conseguem perceber como a vida seria possível sem internet e sem celular.

Esta geração cresceu com a dupla Sandy & Júnior como referência. Cresceu ouvindo sertanejo, pagode e axé, o que explica a naturalidade de ver atrações de estilos diferentes numa mesma noite em festivais de música.

Causa certa estranheza ver ídolos como João Gilberto (anos 1950), Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque (anos 1960 e 1970), Cazuza e Renato Russo (anos 1980) comparados com as atrações atuais como Ivete Sangalo, Vitor e Léo, Alexandre Pires e Chiclete com Banana.

Dizer que houve uma vulgarização nos últimos anos, pode parecer saudosista. Talvez seja mesmo. Mas ouvir uma música de Chico Buarque ou de Renato Russo e, em seguida, ouvir a letra de algo na voz de Ivete Sangalo responde qualquer dúvida sobre que o teria alguma qualidade ou não.

Vale ainda destacar que tal superficialidade acaba associada a momentos constrangedores, que até então eram enfatizados pelos políticos brasileiros - um deputado mineiro acusado de plágio, para se defender, disse que tal prática seria comum na Assembléia Legislativa ou o governista Palozzi, afirmando, em sua defesa, que era comum um ministro sair do governo e prestar consultoria para empresas privadas.

A idéia seria: se todos fazem, logo o meu erro não poderia ser condenado e nem percebido como erro (?) já que é uma prática aceita pela sociedade (?). Os políticos esquecem que erro é erro e ponto final. Lembrar da gravidade do erro do outro não transforma o "seu erro" em acerto.

Sandy fez uma propaganda de cerveja sem gostar do produto. Basicamente, o que não servia para ela, Sandy recomendava para os outros ! Em sua defesa, disse que outros artistas teriam a mesma prática, seguindo a equivocada linha de raciocínio de muitos políticos brasileiros.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

1992 & 2008

Em fevereiro de 1992, após terminar o mestrado, estava sem trabalho e decidi usar o meu tempo livre para pesquisar no Arquivo Público Municipal. Coletei dados sobre um prefeito da década de 1950, mas isso não resultou em um artigo. Em agosto de 2008, sem trabalho novamente, resolvi fazer um sabático. Primeiro, passei uma ano saindo toda noite. Houve novas amizades, namoro, bares, boites, muita diversão e, claro, excessos. Num segundo momento, optei por ficar isolado e voltei a escrever. Entretanto, não retornei aos arquivos e nem a pesquisa científica. Estava meio influenciado por aquela fala de Henry Miller:

"Mas eu não vou parar de escrever, pelo menos vou querer me divertir com isso. Estou cansado de fazer coisas longas, sombrias e sérias."

O livro "Mitologias" de Roland Barthes foi uma referência na época também. Gostei da maneira como ele analisava os temas cotidianos e resolvi fazer o mesmo, escrevendo textos opinativos. Publiquei os textos no meu website e no meu blog. Desde dezembro de 2010, decidi ficar mais isolado e desliguei o celular, deixei de abrir a caixa de e-mails e de entrar nas chamadas redes sociais - "orkut", "facebook" e "twitter". Lia, escrevia algo e publicava na internet. Não sabia (e ainda não sei) quem lia e o que achava do que eu escrevia.

Permaneço com este método até hoje. Escrever é uma necessidade. Escrevo, antes de mais nada, para mim. Com a internet, existe a possibilidade de compartilhar com os outros, no blog e no website, o que eu penso. Não é um processo de comunicação completo pois não sei o que os leitores pensam. Mas, no meu caso, é um começo.

PESQUISAS CIENTÍFICAS E TEXTOS OPINATIVOS*

* Este texto foi publicado anteriormente em: http://profelipe.weebly.com/

Mais de 1.000 pessoas possuem os meus livros impressos da Rápida Editora.

Eu não sei a quantidade de livros vendidos pela Cabral.

Existem inúmeras "xeroxes" dos livros - fato que nunca me incomodou.

Tenho duas teses aprovadas - Mestrado na UFF/RJ em 1992 e Doutorado na PUC/SP em 1999.

Publiquei artigos em revistas científicas.

Nos meus blogs e em alguns livros virtuais (após 2010), os leitores encontrarão textos opinativos.

CARREIRA SOLO

Nas tais fases, ultimamente sigo a teoria dos 3 "s": Sozinho / Sem compromisso / Sem encher o saco.

O fato de preferir ficar sozinho lembra uma declaração do John Lennon (Playboy - Entrevistas, p. 303):

"Quando você tem 16 anos é certo ter companhias e ídolos masculinos. É a coisa da tribo, tudo bem. Mas, quando você ainda faz isso aos 40, significa que, na cabeça, você ainda não passou dos 16."

Provavelmente, depois dos 30 ou 40 anos, a opção seja a "carreira solo" mesmo. Por quê?

Primeiro, seria meio patético sair todo final de semana com a turma da quinta série, afinal, a maioria casou, tem filhos e vários compromissos. Sempre achei desagradável aquele tipo de festa para reunir a galera da "década de 1980". Todos envelheceram, engordaram e, pior, as mais cobiçadas da época agora parecem aquela sua tia solteirona.

Em segundo lugar, parece ser um processo natural, como a tese defendida na série "Sex and The City": "quando ficamos mais velhos, os grupos ficam cada vez menores." Tenho 50 anos e os amigos da minha idade estão na fase de serem abandonados pelas esposas e, em alguns casos, de voltarem, após décadas, a morar com os pais.

Uma terceira hipótese seria a crise da meia idade. Como diz um amigo, após os 50 anos, entramos numa contagem regressiva... O medo da morte agrava as crises - como divórcio, falência, prisões ou desemprego - e reforça a busca por alternativas que, aos olhos da maioria, parecem bizarras: comprar um carro vermelho, namorar garotas muito mais novas, usar pulseiras e colares de ouro, fazer infinitas plásticas em vários lugares do corpo, ficar careca mas deixar o cabelo comprido na nuca, entre outras coisas.

Ser criança é ótimo, tudo é novidade e a responsabilidade é zero. Ser adolescente é problemático, como toda fase "intermediária". Ser adulto, assumindo a responsabilidade dos seus atos (e dos outros) é um saco. Aqui, para alguns, a única vantagem seria humilhar crianças e adolescentes. Ser velho é ser sozinho ou aceitar aquilo que antes não seria razoável. Contagem regressiva é uma maneira educada de admitir a decadência. E o pior, para muitos, ainda estaria por vir: a morte, claro. Um resumo interessante pode ser aquela frase citada no filme "Wall Street - Money never sleeps":

"Getting old is not for sissy, kid."

1848 & 2011

O que Karl Marx e Friedrich Engels afirmaram em 1848, é ainda mais verdadeiro no mundo atual:

"Die Bourgeoisie hat durch ihre Exploitation des Weltmarkts die Produktion und Konsumtion aller Länder kosmopolitisch gestaltet." (Manifest der Kommunistischen Partei, Voltmedia, p. 18)

Sim, a burguesia transformou o mundo, ditando o que produzir e o que consumir. A escolha de uma classe foi imposta como se fosse a maneira "natural" de existir de todos os seres humanos, em qualquer parte do planeta.

A última revolução tecnológica (computadores pessoais e internet) apenas consolidou o que antes poderia ser visto como um projeto. A contradição básica do capitalismo, com a acumulação de riqueza nas mãos de uma minoria, não mudou.

Na época de Marx e Engels, a resposta para este problema era uma revolução do proletariado. Contudo, após a crise dos países do leste europeu, esta solução passou a ser questionada, o que, fortaleceu, ao mesmo tempo, a ideologia do capitalismo.

A constatação de 1848 vale para 2011. A questão atual é, como diria Lênin, o que fazer? O capitalismo não atende os interesses da maioria. Muitas experiências de revoluções comunistas fracassaram. Existiria outra alternativa? A certeza de que o capitalismo é necessariamente um modo de produção que precisa excluir as pessoas não garante uma resposta quanto ao modelo econômico que deveria ser colocado no seu lugar.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

FACULDADE E DESEMPREGO

Numa semana em que o diretor do FMI foi preso na primeira classe de um avião, tentando fugir da violência sexual cometida contra uma camareira no hotel em que estava hospedado, cuja diária era de 3.000 dólares, estudantes em Madri fizeram manifestação em praça pública contra o desemprego. Na Europa (e em outras partes do mundo), a situação não é simples. Na Inglaterra, o custo triplicou no que diz respeito ao ensino superior. O dilema é óbvio: pagar caro para fazer uma faculdade e depois ganhar um salário baixo ou ficar desempregado. Lembra a fala de Don Tapscott (citada em outro artigo):

"Os jovens de hoje cresceram ouvindo que se estudassem com dedicação e não se metessem em problemas teriam uma vida confortável na idade adulta. Mentimos para eles. Chegaram ao mercado de trabalho e não há emprego." (Veja (13/04/2011, p. 23)

No Brasil, a situação ainda é mais complicada, afinal, após a estabilidade da economia em 1994 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1996, houve a expansão do ensino superior nas universidades particulares, que hoje respondem por 70% do mercado do país. O problema é a qualidade. Numa nota até cinco, 40 % dessas faculdades ficaram com 1 ou 2. O resultado prático é a formação de um profissional que não está adequado para o mercado.

Essas universidades demitiram em massa mestres e doutores. Não se preocupam com pesquisa e extensão. A conseqüência está aí. O desenvolvimento econômico exige profissionais que as universidades não podem oferecer. E o governo? Oficialmente, diz que fiscaliza. Na prática, as regras do Ministério da Educação não são respeitadas pelos donos de faculdades.

Existe gente que ainda defende uma política mais flexível quanto ao ensino superior, o que só pioraria a situação. Em especial no governo Lula, o elogio da ignorância e o desprezo pelos pesquisadores complicaram o que já era ruim. Neste contexto, os empresários reclamam que não encontram profissionais qualificados, ou seja, existem profissionais, mas que não são qualificados o suficiente para atender o mercado.

A administração Lula acreditava que seria possível crescer economicamente sem levar em consideração a qualidade do ensino superior. O resultado está aí. Além de depender da tecnologia estrangeira, agora querem importar trabalhadores qualificados de outros países. Ainda assim, o governo anterior ainda dizia que o Brasil seria uma potência mundial. O discurso foi um e a realidade do país, na atualidade, tornou-se outra.

A ATUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR

No especial sobre o ensino superior no Brasil do Jornal da Globo, ontem (24/05/2011) foram tratados os problemas das universidades. A infra-estrutura foi apresentada como o principal problema das escolas federais. O reitor da UFMA simplesmente não permitiu a entrada dos repórteres num laboratório da universidade. Foram mostradas cenas de abandono e falta de manutenção dos laboratórios. A maior parte da verba (90%) é gasta com pessoal. Ainda assim, foi dito que, por ter estabilidade no emprego, existe professor que não aparece para dar aula. Os docentes estariam desestimulados.

Nas faculdades particulares, destacou-se que somente a metade dos alunos conclui o curso superior. O problema da qualidade havia sido abordado na noite anterior (40% dessas escolas possuem as piores notas da avaliação).

Como se chegou neste quadro? Os oito anos de governo Lula foram fundamentais neste processo.

Primeiro, se falta dinheiro para manter e melhorar a infra-estrutura da universidades federais, ao invés de resolver o problema, a sua administração criou novas universidades e ampliou os campi das existentes.

Segundo, no governo anterior, os donos de faculdades, por causa do Provão, temiam que as suas unidades fossem fechadas devido a péssima qualidade do ensino. O presidente Lula acabou com o Provão, adotou outro sistema de avaliação e, pior, não houve fiscalização adequada.

Isso e a última Lei de Diretrizes e Bases da Educação permitiram a criação dos centro universitários - algo que não tinha a obrigação de pesquisa e extensão, e ainda tinha a autonomia que faltava às faculdades isoladas - e dos cursos a distância. O resultado foi a expansão do setor privado no ensino superior. Em 2011, 70% dos universitários estão nas escolas particulares.

A mudança do sistema de avaliação e a falta de fiscalização fizeram com que os empresários optassem pelo abandono da pesquisa e pela demissão de mestres e doutores, comprometendo a qualidade do ensino. Eles procuraram definir a concorrência pelo preço da mensalidade. A conseqüência? Muitos alunos entram nas faculdades, pagam mensalidade por uns dois anos e abandonam os cursos. Os que ficam e formam, devido a baixa qualidade do ensino, não são considerados aptos para o mercado.

Esta é a realidade atual do ensino superior no país.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

COLUMBINE & LÍBIA

O homem nasce "programado" para morrer. É fato. A destruição e a auto-destruição, assim como a valorização da vida, estão em sua genética. É uma contradição básica que existe em toda pessoa. Leia Freud.

Tradicionalmente, no mundo ocidental, para conter o instinto de violência, foram criadas algumas instituições, como a família, a escola e a religião. Para civilizar o indivíduo, a família era fundamental na infância. Em seguida, a escola assumiria o papel da educação. A igreja, no capitalismo, perdeu o poder que tinha antes.

Estas instituições baseavam o seu poder na figura da autoridade que detinha o saber : o pai, o professor e o padre. A criança e o jovem recebiam o conhecimento dos seus superiores.

A popularização do computador pessoal e da internet, depois do lançamento do Windows 95, mudou esta realidade. Não existe mais uma relação vertical do saber. Todos tornaram-se produtores e consumidores do conhecimento. Não existe mais uma relação de superior e inferior. Não existe mais "a" autoridade.

Pais, professores, padres e governos têm medo da internet. Não deveriam. Ela é um instrumento usado pelas pessoas.

Houve vários massacres antes de Columbine, mas o que fez dele um ícone foi a internet. Se fosse antes, o massacre poderia ser "editado" pela televisão como alerta de um exemplo que não poderia ser seguido. Este monopólio da informação não existe mais.

Atualmente, a internet tem sido usada como uma ferramenta importante nas transformações sociais de países como o Egito, a Líbia, a Tunísia, entre outros. Os jovens, com a internet, derrubam governos.

Os dois exemplos mostram como o uso da internet pode trazer resultados negativos ou positivos para a sociedade. O que não pode acontecer é fingir que a internet não existe. Não dá para acreditar que a sua utilização não altere as relações entre as pessoas.

Assim, o problema não seria apenas rever os papéis de instituições como a família, a escola e a religião. Trata-se sobretudo de entender que a maneira de saber (e sua relação com a autoridade) mudou. Não basta amarrar o filho dentro de casa, nem colocar guardas armados nas escolas e, muito menos, jogar bombas contra a própria população (como na Líbia). Admitir que as relações não são mais as mesmas é o primeiro passo para a reflexão que poderá apresentar soluções (mesmo que provisórias) para as crises atuais.

CONCEITOS E FATOS

O criticado George W. Bush prendeu e levou a julgamento, depois a pena de morte, o inimigo Suddan Hussein. O elogiado Obama deu ordens para assassinar Osama Bin Laden, que na hora da morte, de acordo com as fontes dos Estados Unidos, estava desarmado. Outro indivíduo desarmado, que estava na casa, também foi assassinado.

A delação levou a prisão de Suddan Hussein, dentro de um buraco, com mais de 800 mil dólares. A deleção, com tortura, levou ao assassinato de Bin Laden. Ele possuía dois celulares e 500 euros (nisto, ele foi coerente no seu ódio pelos Estados Unidos) costurados na roupa. Diferente de Suddan Hussein, estava numa casa de três andares, com seus familiares, lugar que teria passado os seus últimos anos de vida.

Nos momentos decisivos, as ações de George W. Bush, Suddan Hussein, Obama e Bin Laden não foram, ironicamente, o que se esperava deles. O que existiu em comum no episódios foi a traição, que em alguns lugares chamam de "deleção premiada", tentando transformar algo negativo numa virtude. Hoje, os trinta dinheiros recebidos por Judas seriam interpretados de outra maneira.

Os representantes do governo norte-americano falaram da tortura como algo "natural" no processo de obter informações de um preso. Obama foi aplaudido de pé, tanto por democratas como por republicanos, pelo tiro a queima roupa contra Bin Laden, sem chance de defesa ou possibilidade de julgamento. Os militares dos Estados Unidos invadiram outro país como se fosse o quintal de sua casa, sem avisar as autoridades locais. Tudo foi apresentado no noticiário como ações naturais de uma nação "civilizada" contra povos "bárbaros".

Nunca conceitos e fatos estiveram tão distantes.

FLEURY

Na minha infância, lembro de ver cartazes dos "terroristas" procurados. Perguntava aos adultos o significado daquilo e ninguém explicava direito. Era um assunto proibido.

Anos depois, entendi que as pessoas procuradas faziam oposição à ditadura militar. A proibição de conversar sobre o assunto tinha a ver com a repressão e a censura no período.

Provavelmente, quem mais simbolizou a repressão, na época, foi o delegado Fleury.

Se, por um lado, ele era condecorado pelas autoridades oficiais, por outro, não havia dúvidas quanto ao seu papel nas prisões arbitrárias e nos excessos da polícia. Ele foi, além de "chefe do Esquadrão da Morte, corporação clandestina de policiais, (...) indiciado em diversas ocasiões pela morte de supostos bandidos e pela tortura a presos políticos." (Almanaque Abril, Quem é Quem, p. 213) Nunca ficou preso. Morreu em 1979.

VOCÊ ACREDITA NO FUTURO?

John D. Biroc, baseado na teoria do caos, diz que não seria possível fazer um planejamento a longo prazo. Esse tipo de afirmação não tem a ver com a existência ou não de Deus. Trata-se de um problema dos homens.

Na medida em que cada indivíduo enfrenta, nele mesmo, os conflitos do id, ego e superego (ver Freud), quando ele relaciona com o outro, ele enfrentará outro conjunto de id, ego e superego. Os conflitos aumentam na proporção que ele tem contato ou influencia um número maior de indivíduos. Pense num casal, numa família, numa escola, na igreja, no sindicato e assim por diante.

São criadas a todo instante infinitas relações que se chocam umas com as outras e produzem resultados momentâneos, que são transformados em seguida em outros fatos. Como dizer que algo acontecerá com um indivíduo ou com a sociedade nos próximos cinco anos? Impossível.

Além dos conflitos dos indivíduos, que produzem, a todo momento, conseqüências inesperadas, existem ainda as mudanças da natureza, que podem destruir os planejamentos, por mais avançados que possam parecer, como no caso do Japão, com a Tsunami de 2011.

Não existe estabilidade. Não existe ordem. A mudança é constante e o seu resultado é imprevisível.

MÁQUINA DE PROBLEMAS

Além da predisposição genética, a personalidade de uma pessoa pode ser afetada por problemas como gravidez indesejada, abusos na infância ou "bullying" na adolescência. Esses últimos fatores tornaram-se comuns nas décadas recentes. A conseqüência pode ser percebida na violência que ocorre no cotidiano, como assassinatos por motivos fúteis, crise de autoridade ou massacres nas escolas. Muito adultos, hoje em dia, são resultados daqueles problemas.

A ideologia burguesa tenta conter o instituto de destruição e auto-destruição da maioria. A questão é que a reformulação deste discurso não tem acompanhado as transformações que acontecem na sociedade. Os indivíduos não acreditam mais nos "valores" como antigamente. Se antes, havia a crença no futuro, fosse ele no paraíso da religião ou no comunismo e na igualdade da política, atualmente existe uma desilusão e uma falta de perspectiva. A conseqüência deste processo é o individualismo, o que agrava ainda mais as crises.

As demissões de milhares de trabalhadores feitas pelas grandes empresas, para "aumentar o seu valor no mercado", mostram uma realidade cruel. Em outras palavras, não tem dado o resultado esperado a insistência no discurso de que o desemprego é um problema pessoal e não representaria uma crise social. Como lembra Maier, existe "a ilusão de estarmos protegidos. Nada pode acontecer: a paz, não a dos bravos, mas a dos gerentes de nível médio; sem surpresas nem aventuras - salvo, é evidente, a de ser despedido !"

Sim, a realidade bate de frente com a alienação ! Muitos ainda querem continuar na ilusão e no consumismo, mas são descartados pelo sistema que tanto acreditam. Os empregos desaparecem aos milhares. O que fazer com tantas pessoas sem trabalho? Culpá-las, como no velho discurso, não resolve muito ultimamente. Fingir que nada acontece? Talvez. Mas isso não impede assassinatos, assaltos, seqüestros, mesmo em lugares que antes as pessoas acreditavam que estariam seguras, como os condomínios e os shopping centers.

Culpar os outros não soluciona o problema, afinal, também existe a violência dentro de casa, com os homens que batem ou matam "por amor" ou os filhos que matam os pais por causa de dinheiro.

Ao longo do anos, não dar a devida atenção àqueles problemas - gravidez indesejada, abusos na infância ou "bullying" na adolescência -, foi, de certa forma, como criar uma bomba relógio que, depois, estaria pronta para explodir. O "depois" chegou. Esta é a realidade atual.

MEIO DE TRANSPORTE

Primeiro, imagino que uma caminhonete deve ser útil numa fazenda. Segundo, deve ser meio constrangedor estacionar uma "Hilux" na porta de uma bar ou num shopping center, Terceiro, cada uma vale 160 mil reais, o que explica a quantidade de roubos em São Paulo.

O que chama a atenção, claro, é por que um indivíduo andaria com um veículo daquele tamanho dentro da cidade. Algumas hipóteses. Ostentação: simples, que dizer: "AGORA, eu tenho esse dinheiro." Imagino que deve ser o mesmo mecanismo de alguém que anda por aí com correntes de ouro. Outra hipótese: "misdirection". Ou seja, quer disfarçar algo que incomoda, algo como ser baixinho, ser chifrado pela esposa, qualquer coisa do gênero.

Se a camionete estiver cheia de mulheres jovens e bonitas, provavelmente seriam todas as hipóteses juntas. Não tenho nada contra carros. Pelo contrário, trata-se de um meio de transporte importante. Mas é só isso: um meio de transporte importante.

OBSERVADOR

Eis o lema da série Gossisp Girl:

"You're nobody until you're talked about"

Lembra uma música do grupo The Sisters of Mercy, cuja letra afirma:

"I don't exit, when you don't see me."

Trata-se basicamente de uma velha suposição filosófica. No entanto, representa também uma possibilidade real:

"John Archibald Wheeler (...) esforça-se para demonstrar que o universo é real, em parte, porque nós o observamos. Talvez o cosmo não exista quando não olhamos para ele. (...) Seus argumentos se baseiam na leis (e em experiências de laboratório) da física quântica, as quais demonstram, por exemplo, que o comportamento e a trajetória de um elétron são sempre influenciados pelo observador." (Superinteressante, edição 181, p. 74)

Em suma, o indivíduo precisaria ser visto para existir e o que existe dependeria do seu olhar. Trata-se de uma hipótese razoável. Mas ainda é apenas uma hipótese.

PERDA DE MEMÓRIA

Alan e Charlie Harper (mais uma vez...) discutindo sobre a velhice, destacam problemas como a perda de memória, a solidão e a impotência.

A perda de memória é comum na terceira idade e não tem cura. Alguns médicos afirmam que os indivíduos deveriam exercitar o cérebro - com leituras e jogos de xadrez, por exemplo - como fazem com o corpo. Entretanto, numa sociedade na qual a alienação é uma das principais características, a maioria parece não levar este tipo de conselho a sério.

Anthony Hopkins ganhou o Oscar por sua interpretação no filme "O Silêncio dos Inocentes". Questionado sobre como chegaria a tal perfeição na interpretação de um personagem, ele afirmou que repetia a fala 250 vezes, que seria uma espécie de obsessão. Contudo, é esse trabalho que permite que a sua atuação seja admirada. Karl Marx gostava de aprender novas línguas para entender a atuação do proletariado em vários países. Ele também utilizava a técnica da repetição.

Os professores "modernos" condenam tal técnica, pois dizem que os alunos devem aprender e não decorar. Esquecem de dizer que eles mesmos em suas aulas ou palestras, usam esta técnica ou uma "cola" que aparece em forma de ficha ou com a utilização de retro-projetor ou data-show. Obviamente, a repetição é uma forma de reter uma informação. A reflexão sobre um conjunto de informações, possibilita o aprendizado.

Isso serve para estimular o cérebro e pode diminuir o risco de perda de memória. Entretanto, trata-se de um problema mais grave. Além dos fatores biológicos, deve ser considerado ainda a relação do indivíduo com o seu passado. Ele tem medo de lembrar algo? Abusos sofridos na infância, por exemplo, podem dificultar o acesso às lembranças de uma pessoa. A tentativa de bloquear um trauma ao longo de décadas pode contribuir para a perda de memória na velhice.

Heidegger já destacava a importância de conhecer o passado, para viver o presente e não temer o futuro. Sem isso, a pessoa pode desenvolver outro tipo de doença, ou seja, fugir do passado, além de criar insegurança no presente, acarreta uma forte ansiedade quanto ao futuro.

Certamente, a perda de memória e a ansiedade estão entre as principais crises que os indivíduos devem lidar na atualidade.

RODIN & MICHELANGELO

Já comentei sobre a importância de ter visto, em Madri, os quadros "Guernica" de Picasso e Las Meninas" de Velásquez. As esculturas que mais me chamaram a atenção foram "O Pensador" de Rodin em Paris e "Pietà" de Michelangelo na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em Roma.

A escultura de Rodin fica no museu com o seu nome, numa região perto da Champ Elisées. Lá estão outras obras importantes, como a monumental "la Porte de l'Enfer". As esculturas ficam distribuídas ao ar livre e o jardim é algo que impressiona pelo seu tamanho e a sua beleza.

Uma música do Dire Straits resume o sentimento de quem gosta de viajar: "girl, you look so pretty to me, like a spanish city to me..." A imagem que me vem a cabeça, neste momento, é a da cidade medieval de Toledo. Indescritível. Passear pela Europa, visitando principalmente as igrejas, os castelos, os museus e os monumentos, significa conhecer mais sobre a história e a cultura do mundo ocidental.

REFLEXÃO E SILÊNCIO*

* Este texto foi publicado anteriormente em: http://profelipe.weebly.com/

As pessoas não entendem uma atitude que não possa ser enquadrada nas ideologias do trabalho e do consumismo. Precisar do silêncio, ficar isolado em casa, lendo e escrevendo parece, aos olhos da maioria, algo estranho. provavelmente, como diria Byron, trata-se da "afirmação da vontade do indivíduo que não se realiza no mundo mundo e se volta à sua interioridade como única forma possível de expressão."

Sêneca associa o isolamento aos infortúnios do destino, quando "a alma deve recolher-se a si mesma (...) ela não se ressente das perdas materiais e interprete com benevolência até mesmo as coisas adversas."

Os conselhos de Sêneca visam a busca da tranqüilidade. São importantes e deveriam ser lembrados na atualidade, quando se valoriza a acumulação de capital e a ostentação.

Acredito que o processo de reflexão se realiza melhor com simplicidade e humildade. Escolher o silêncio, algumas vezes, é fundamental. O convívio social deve ser retomado, mas no momento que o indivíduo achar efetivamente adequado.

FILOSOFIA DE BAR: TRABALHO E CAOS

Por que um homem trabalha tanto? Para ter mais dinheiro... Para quê? Para comprar coisas... Para quem? Sim, essa é uma pergunta interessante. O fascista e machista Zhirinovsky tem uma hipótese:

"Os homens procuram dinheiro para o prazer da mulher, para comprar presentes para ela. As mulheres induzem os homens ao crime. (...) Eles não precisam de dinheiro para eles mesmos. Eles precisam para comprar presentes caros." (Playboy, March 1995, p. 55 e 154)
{ "[Men seek] money for woman's pleasure, to buy her gifts. Women push men to crime. (...) They don't need money themselves. They need it for expensive presents." }

É verdade? Em parte... talvez... No entanto, o fato é que trata-se de uma hipótese simplista e incompleta. A ideologia do excesso de trabalho no capitalismo está associada a várias temáticas além do consumismo, como a fuga de si, a culpa e a alienação.

Como escrevi em outros textos, o conceito de trabalho depende de cada sociedade e da época histórica. Não é um conceito universal. Aliás, se for considerar as mudanças na história da humanidade, ele foi percebido mais como algo negativo, como uma obrigação e uma punição, do que como algo nobre, associado a dignidade.

O problema atual do capitalismo, depois de ter criado uma imagem positiva do trabalho, é se deparar com uma realidade onde não existe trabalho para todos. O que fazer com o número cada vez maior de desempregados que acreditam que a vida só teria sentido no trabalho? Não trata mais de admitir o "exército de reserva". O cenário no século XXI ultrapassou as necessidades do capital dos séculos XIX e XX. Do ponto de vista da produção, não faz mais sentido um indivíduo trabalhar durante 8 ou 10 horas por dia. Mas, o que fazer com ele? Pior: como mudar uma realidade na qual o trabalho ocupava o lugar central?

Fugir do ócio e não encontrar trabalho - os empregos estão desaparecendo... - é, num primeiro momento, um problema de cada indivíduo, afinal "(...) as multidões superqualificadas já mendigam funções obscuras dos quadros administrativos." (Maier, p. 16) Quando isso torna-se comum e milhares, milhões de pessoas encontram-se na mesma situação, torna-se um problema social. Não entender que a antiga mentalidade não serve mais ao capitalismo significa caminhar em direção ao caos.

FILOSOFIA DE BAR: TRANSPORTE DE CARGA

A vida de um animal - o homem, inclusive - representa apenas um transporte de carga genética, visando a evolução (melhoramento) da própria espécie.

O instinto do animal vem desta carga genética. É inconsciente.

"Il carattere empirico, como mero impulso naturale, è in sé irrazionale." ( Schopenhauer L'Arte de Essere Felici, Milano, Adelphi, 1997, p. 32)

No que diz respeito a herança genética, no caso do homem ("X", por exemplo), significa dizer que ele não sabe sobre o conteúdo das vidas passadas.

Não são as vidas passadas de "X". São de "Y", "Z" e assim por diante.

"X" simplesmente aproveitou, de maneira inconsciente, o melhoramento da espécie proporcionado por "Z" e os outros, para agir, quando necessário, por instinto.

"X" reage, para sobreviver, ao que é oferecido pelo seu ambiente.

Desta forma, o ambiente proporciona a mudança em cada geração, que é passada com a herança genética.

PICASSO E VELÁSQUEZ

Gosto de arte. Quando estava em crise com minha pesquisa no doutorado, andava pelos museus de São Paulo, para refrescar a cabeça. Quando fui a Paris, sabia da importância da Mona Lisa, o mesmo aconteceu quando fiquei, em Madri, diante dos quadros de Picasso e de Velásquez. Sabia a impressão que Las Meninas havia deixado em Michel Foucault:

"C'est que peut-être, en ce tableau, comme en toute representation dont il est ainsi dire l'essence manifestée, l'invisibilité profonde de ce qu'on voit est solidaire de l'invisibilité de celui qui voit, malgré lés miroirs, les reflets, les imitations, les portraits." (Les Mots et Les Choses, p. 31)

É impossível não pensar na idéia de representação diante do quadro de Velásquez. Por outro lado, não há como negar a grandiosidade da obra de Picasso. É uma "viagem": ver o quadro todo ou observar atentamente um detalhe, um "momento", perceber, como diz Marshall Berman, "(...) as figuras de Guernica, de Picasso, lutando para manter viva a própria vida, enquanto emitem o seu grito agudo de morte." (Tudo que é Sólido Desmancha no Ar, p. 30)

Trata-se de uma experiência única passear pelo corredores do Museu do Louvre, do Museu Britânico ou do Museu do Prado. O mesmo pode ser dito ao visitar a Capela Sistina ou outras catedrais na Europa.

Diante de uma obra de arte, o indivíduo muda o humor, fica, por um instante, diferente. Acontece algo. É uma experiência, para muitos, tranqüilizadora.

ALIENAÇÃO

O que irrita uma pessoa? Uma personagem do filme "Les Invasions Barbaries" dá uma boa dica:

" L'inconscience. Les gens qui sont incapables de voir la réalité. "

Sim, a alienação irrita. As pessoas são incapazes (como diz a personagem) ou se recusam a ver a realidade. Maier afirma que "a maioria é incapaz de ver a sua dignidade reconhecida." Será? A maioria sabe (ou quer saber) o que é dignidade? Nelson Rodrigues, discutindo sobre o conteúdo de suas peças, afirmou:

"(...) que o espectador burro não saque a diferença, isso é uma fatalidade do espectador, ouviu? Eu não sou culpado da burrice humana; aliás 99% da criatura humana é imbecil."

Fatalidade? Incapacidade? Recusa? A alienação é incentivada em nossa sociedade. Saber menos garante a concentração de renda para uma minoria. O objetivo final, para utilizar termos marxistas, é econômico. Neste sentido, a alienação é produzida pela ideologia, que chega aos indivíduos através dos meios de comunicação de massa, das escolas, das igrejas, entre outras instituições.

terça-feira, 19 de abril de 2011

DIREITA E ESQUERDA

Não sou militante de partido de esquerda. Assim, não sou obrigado a seguir dogmas, nem a justificar atitudes de governos e, muito menos, de ler somente obras de autores marxistas. Leio de tudo. Alguns filósofos, como Nietzsche e Heidegger, são interessantes como "provocadores da reflexão". O resultado político das suas teorias é outro problema.

Neste contexto, Georg Lukàcs estava correto quando colocava Heidegger entre os pensadores burgueses (História e Consciência de Classe, p. 364). Basta lembrar que ele assumiu, na época do nazismo, o cargo de reitor da Universidade de Freiburg, "expressando suas esperanças numa 'completa revolução da existência germânica'." (Heidegger, Os Pensadores, p. 5 e 6)

No século XX, porém, não existiu apenas o totalitarismo de direita. O governo stalinista na antiga União Soviética serve como exemplo de totalitarismo feito em nome dos ideais da esquerda.

Quem lê meus textos, já percebeu as minhas críticas ao governo petista da administração Lula, sobretudo no que diz respeito aos temas da educação e da política externa. Por outro lado, não há como negar que o efeito político do capitalismo no cotidiano da maioria da pessoas é péssimo, pois aumenta a alienação e a desigualdade na sociedade. A última revolução tecnológica não mudou essa realidade. O que ocorreu foi uma maior concentração de renda e um aumento do desemprego.

A leitura de obras clássicas, independentemente da linha política do autor, como são os casos de Lukàcs, Nietzsche e Heidegger, pode ajudar na reflexão e na busca de soluções para as angústias diárias vividas sobretudo nas grandes cidades.

FILOSOFIA DE BAR: NECESSIDADE, MOTIVAÇÃO E MEDO

A casa caiu? Ainda não... Mas não existe saída: o fim é a morte. Antes, porém, existem as crises, que são agravadas depois dos 30 anos: divórcio, falência, desemprego, loucura, prisão, asilo, suicídio... Essas crises são conseqüências, em parte, das escolhas feitas normalmente aos 25 anos: formatura, casamento e/ou filho. Antes dessa idade, existe a fase "dourada", quando tudo parece bom e novo: namoros, bares e festas entre os 15 e 25 anos; os colegas nas escolas, entre os 5 e 15 anos; e a presença da família entre o nascimento e os 5 anos.

Os 25 anos seriam o marco: antes você era "filho" - alguém era responsável pelos seus atos - e depois você torna-se sujeito. Estudo, trabalho e caos.

Não enxergar a decadência não resolve o problema. As frustrações, como destaca Freud, "perturbam a alimentação, as relações sexuais, o trabalho profissional e a vida social" e geram "casos graves de neurose," que com o passar dos anos, podem aparecer como AVCs ou ataques do coração. Em suma, a alienação não é a resposta.

O que leva um indivíduo a fazer algo? Necessidade. Motivação. Medo. Os três fatores dependem das condições que ele vive no momento. Essas condições são definidas, sobretudo, pelas infinitas relações entre as pessoas, que resultam em fatos, que criam efeitos positivos para alguns e negativos para outros. O que os indivíduos produzem em suas infinitas relações não têm como resultado algo lógico ou racional. Por exemplo, uma pessoa que mata, rouba e comente outros crimes, pode torna-se rica, não ser presa, ter filhos e netos, e morrer naturalmente na velhice. Outros, que são éticos e honestos, podem sofrer conseqüências negativas na velhice.

A vida é definida por dois instintos: a sobrevivência (alimentação) e a reprodução (sexualidade). Os "jogos" poderiam representar um terceiro fator. Eles seriam aquilo que permitem a satisfação dos dois instintos.

Se sexo é vida, a perda da sexualidade seria a morte. Existe uma propaganda de uma clínica, que passa na televisão nos intervalos dos jornais, que promete resolver os problemas de ereção e ejaculação precoce. Aparentemente, esses problemas são associados à velhice.

Na terceira idade, o sexo é percebido como algo "estranho". Os velhos podem abandoná-lo e escolher "outra obsessão" para lidar com a vida ou podem fazer escolhas, que aos olhos dos outros, seriam "bizarras", como o envolvimento com pessoas muito mais jovens, as drogas, o sadomasoquismo ou o bi-sexualismo.

O viagra ajuda, mas a verdade é que a excitação, na terceira idade, não seria tão óbvia como na juventude. Além do fator biológico, não há como negar que após décadas fazendo a mesma coisa, se houver interesse em continuar, alguma novidade teria que aparecer. Desistir de ter relações sexuais é uma opção comum. Continuar, nesta idade, é que seria o problema. De certa maneira, se aquela premissa for correta - "sexo é vida" -, continuar representaria uma resistência à morte.

HEIDEGGER & LUKÀCS

Li Nietzsche, pela primeira vez, na graduação. Como qualquer pessoa, fiquei impressionado na época. Atualmente, estou lendo Martin Heidegger. Na verdade, as leituras de Heidegger sobre Nietzsche, em duas obras: "Nietzsche - Metafísica e Niilismo" (Relume Dumará) e "Was heisst denken?" (Reclam).

Heidegger impressionou os filósofos sobretudo com as suas idéias apresentadas no livro "O Ser e o Tempo". Georg Lukàcs (História e Consciência de Classe, p. 362) em "Posfácio de 1967" comentou sobre o livro:

"(...) Lucien Goldmann (...) via na obra de Heidegger uma réplica polêmica ao meu livro ["História e Consciência de Classe" ], se bem que ele não seja aí mencionado."

De fato, eram duas referências filosóficas distintas. Se Heidegger utilizava as premissas de Nietzsche, Lukàcs seguia os princípios marxistas.

Na apresentação da teoria de Heidegger na coleção Os Pensadores (p. 9), é dito: [angústia = causa no mundo como um todo e em estado puro]

"Não tendo coisa alguma como causa do mundo, a angústia teria sua fonte no mundo como um todo e em estado puro. O mundo surge diante do homem, aniquilando todas as coisas particulares que o rodeiam e, portanto, apontando para o nada. O homem sente-se, assim, como um 'ser-para-a-morte'.

A partir desse estado de angústia, abre-se para o homem (...) uma alternativa: fugir de novo para o esquecimento de sua dimensão mais profunda, isto é, o ser, e retornar ao cotidiano; ou superar a própria angústia, manifestando seu poder de transcendência sobre o mundo e sobre si mesmo.

(...) A inquietação estrutura o ser do homem dentro da temporalidade, prendendo-o ao passado, mas, ao mesmo tempo, lançando-o para o futuro. Assumindo seu passado e, ao mesmo tempo, seu projeto de ser, o homem afirma sua presença no mundo. Ultrapassa então o estágio da angústia e toma o destino nas próprias mãos."

Sêneca, antes de Heidegger, já afirmava: "para a morte nasceste (...) pois então escreve para ocupar o tempo em teu proveito." (Sobre a Tranqüilidade da Alma, p. 19) Para escrever é necessário a reflexão.

Na citação do Heidegger, além de colocar o homem como um "ser-para-a-morte", o cotidiano é mostrado como uma fuga de si. A alternativa seria a angústia associada à temporalidade e sua origem estaria "no mundo como um todo e em estado puro."

Certamente a reflexão sobre "o" homem (fora do contexto da luta de classes) e o uso de termos como "estado puro" não seriam utilizados por Georg Lukàcs.

OMISSÃO

O Jornal da Record (11/04/2011) revelou que apenas 2% das crianças querem a profissão de docente no Brasil. De acordo com o Jornal do SBT (25/02/2011), houve um aumento de 38,8% para 52,3% nos assassinatos de indivíduos entre 15 e 24 anos. Nesta faixa etária, o desemprego está acima dos 24 % no país.

Em março de 2001, o Bom Dia Brasil destacou que além da educação estar na lista dos cortes de 50 bilhões prometidos pela administração federal, existe a intenção de cortar 10% na verba do seguro desemprego.

Da parte do governo, o que se vê na mesma televisão, são propagandas que destacam a melhoria na qualidade de vida e os avanços da educação no Brasil.

Massacres aparecem como fatalidades. Existe uma omissão, um medo de dizer a verdade e de refletir sobre as causas dos problemas. Esta omissão está associada ao governo, aos meios de comunicação de massa, especialmente a televisão, e a indiferença dos indivíduos na sociedade. Isso, claro, reforça as conseqüências negativas vividas no cotidiano da maioria das pessoas.

JUVENTUDE II

Utilizando uma foto de um filme que aparece como casal Jack Nicholson e Amanda Peet (o velho e a jovem - "Alt und Jung"), a Playboy alemã destaca que a maioria, naquele país, considera esse tipo de casal "normal". A foto é usada como ilustração desta idéia, ou seja, o roteiro do filme não é analisado. Nele, existe outro casal - Diane Keaton e Keanee Reeves -, que representaria exatamente o contrário: uma mulher mais velha e um rapaz novo. Se a pessoa não assistir o filme, ela poderá imaginar que ele confirmaria a hipótese inicial, quando acontece o oposto. Trata-se de um mecanismo usado, incorretamente, por um meio de comunicação de massa. Em outras palavras, o machismo ainda é evidente no mundo ocidental. Além disto, existe uma valorização da juventude.

Os executivos, em sua maioria, são homens. Isso explica, em parte, a chamada faixa etária produtiva entre os 20 e 40 anos. Os homens preferem a juventude, pois ela tem o que eles já perderam: muita energia e ingenuidade. Os homens, sobretudo os mais velhos, gostam de garotas jovens. Com o poder do dinheiro e da inteligência - a maioria formou-se há décadas -, eles sentem-se privilegiados diante de garotas cheias de sonhos e sem experiências. Como diria aquele velho executivo de São Paulo, quando indagado se não se sentia desconfortável em sair com moças que só queriam o seu dinheiro: "ainda bem que é assim, pois o que eu tenho é dinheiro mesmo" (e não saúde, beleza ou juventude).

Na empresa, a valorização do jovem segue essa linha de raciocínio. Corinne Maier lembra:

"o jovem, que injeta sangue novo na estrutura, é forçosamente a gema preciosa de uma firma (...) O 'jovem', cujo mérito é não acumular pneus em torno da cintura e usar terno-e-gravata sem a intrusão de gordurinhas inconvenientes, entra no mundo do trabalho de nariz empinado. Ele acha que as palavras 'proativo' e 'benchmarketing' significam alguma coisa, pensa que o sacrossanto comando 'Seja Autônomo!' deve ser levado ao pé da letra, espera ver seus méritos reconhecidos e quer... que o adoremos. Ah, a juventude!"

Dificilmente, o jovem acredita que ele não tenha "poderes". Ele acredita que pode tudo, que realizará todos os seus sonhos. Ele enxerga todas as pessoas como instrumentos do seu prazer. Tudo deve girar em torno dele. A auto-crítica não existe para a maioria. Não era para ser diferente, na medida em que ele é bajulado na empresa e nas relações amorosas. Ele acredita que tem "o" poder e, pior, acredita que será sempre assim. Como diria a Corinne Maier na citação anterior: "Ah, a juventude!"

Alguns podem questionar se eu não era assim quando tinha 20 anos. A resposta é sim. Contudo, com o tempo e a experiência, resolvi planejar o meu futuro. Sim, eu acreditei que isso seria possível também... Só depois percebi que não se passa dos 40 anos sem graves crises: divórcio, falência, desemprego ou a morte de alguém que era fundamental na sua vida (normalmente, uma pessoa da família).

Diante de tudo isso, para não escolher alternativas negativas - como alcoolismo, loucura, drogas, suicídio ou mesmo presídios ou asilos -, a minha sugestão seria: aproveite a sua faixa etária produtiva para comprar um lugar seu - casa ou apartamento. Em uma entrevista para a revista Trip, o cartunista Angeli deu um depoimento interessante:

"este apartamento é alugado. Comecei a me preocupar com isso recentemente. (...) Não quero ficar velho e não ter nada. (...) [Hoje] acho que poderia ganhar mais... O que não posso é trabalha mais. Trabalho no limite, faço muita coisa. Durmo pouco, umas quatro horas por noite."

É isso. Talvez a minha sugestão e o depoimento sirvam para alguma coisa.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

EMPREGO E EMPRESA

É comum ver nos jornais oportunidades de emprego e dicas de psicólogos e de professores. No programa Fantástico, existe um quadro, "O Meu Primeiro Emprego", quando são apresentadas experiências no mercado de trabalho - como a humilhação de um engenheiro novato numa sala de reuniões cheia de gente - e conselhos para fazer sucesso - o erro seria do engenheiro e não da empresa. Sério ?! Don Tapscott, em entrevista publicada na Veja (13/04/2011, p. 23) , desmistificou esse discurso:

"Os jovens de hoje cresceram ouvindo que se estudassem com dedicação e não se metessem em problemas teriam uma vida confortável na idade adulta. Mentimos para eles. Chegaram ao mercado de trabalho e não há emprego."

Mesmo antes de Tapscott, "L'Horreur Économique" de Viviane Forrester (1996) e "Bonjour Paresse" de Corinne Maier (2004) já denunciavam o discurso da globalização e da ideologia neoliberal. Para Maier:

"E você se vê obrigado a ser comercial de si mesmo. É preciso saber 'se vender', como se personalidade fosse um produto com valor de mercado. Para Tom Peters, guru grandiloqüente da nova economia, ter sucesso é fazer de si mesmo uma sociedade comercial - a marca 'Você'."

O problema é que o discurso não corresponde a realidade. Não existem empregos para todos. A culpa seria de quem? Na perspectiva da ideologia, a empresa oferece o emprego e se a pessoa não consegue se manter no trabalho, a culpa é dela. Maier ironiza esse jogo:

"Se eliminamos o seu cargo, é sinal de que você foi incapaz de demonstrar a sua utilidade, não soube valorizar a sua função, despertar o interesse do cliente etc. Na verdade, é claro, a culpa é sua!"

O que seria resultado de um problema social, torna-se, como numa mágica, uma crise pessoal. A pessoa é culpada por ser explorada, manipulada e, em seguida, excluída do mercado de trabalho. De fato, trata-se de um jogo injusto. Afinal, ainda de acordo com Corinne Maier, "existe uma relação de força desigual em um mercado que põe face a face um assalariado sozinho, precisando trabalhar, e uma empresa altamente estruturada e sempre disposta a tirar proveito das oportunidades apresentadas pelo direito do trabalho."

O resultado deste processo pode ser percebido diariamente por todos os indivíduos. Sofrem mais aqueles que são alienados, que se sentem culpados e que acreditam na "mão invisível" do mercado.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

2011 E A DÉCADA DE 1970: A DESTRUIÇÃO DE MITOS?

Li entrevistas de Paulo Coelho, Alan Moore e Jimmy Page. Eles sentem simpatia pelo ocultismo. Não gostei do perfil do Paulo Coelho na medida em que ele insistia no auto-elogio e se dizia melhor que os outros por causa dos seus bens materiais. Alan Moore se mostrava mais discreto, mesmo sendo considerado o melhor escritor de quadrinhos para adultos - "graphic novels" ou "comic books". Jimmy Page, mesmo sendo um dos melhores guitarristas do rock e líder de uma das principais bandas - Led Zeppelin -, não citava bens materiais e discutia assuntos gerais, sobretudo no que dizia respeito a sua música.

Para mim, o Led Zeppelin foi o melhor grupo de rock. A primeira história que li do Alan Moore foi "A Piada Mortal" ("The Killing Joke") sobre o Batman e o Coringa. Fiquei impressionado. Depois li sobre John Constantine e outras histórias. Tornei-me fã do seu trabalho. Considero Moore e Frank Miller as principais referências no universo dos quadrinhos. Não me interessei pelos livros de Paulo Coelho.

Na década de 1970, me incomodava ser fã de uma banda que seus músicos eram associados ao ocultismo. Depois, separei as coisas. Eu sou fã do trabalho de Jimmy Page, o que ele acredita ou não, na sua vida pessoal, era, claro, de interesse só dele. Vi o filme "Exorcista" no cinema, quando era adolescente, e fiquei muito assustado na época, principalmente porque conhecia várias pessoas que acreditavam em religiões, superstições e mitos.

Após algumas décadas, essas preocupações ficaram sem sentido. Se antes o rock era "música do diabo", atualmente existe vertente evangélica no heavy metal. Filmes como "Exorcista" não assustam mais. As pessoas têm medo de assaltos e não de coisas sobrenaturais. Antes os indivíduos acreditavam em grandes projetos, religiosos ou políticos. Hoje predomina o ceticismo e o cinismo.

Nos anos 1970, eu não sabia inglês, não podia ler em alemão, não tinha viajado para a Europa, não conhecia os autores clássicos da filosofia, da história, da economia ou da ciência política. O ano 2000 parecia algo distante na minha adolescência.

Em 2011, ainda lidamos com mitos. Muitos ainda se recusam a pensar na própria morte. Outros temem o fim do mundo. Para esses últimos, o ano que vem será interessante por causa das profecias de Nostradamus e dos Maias. Contudo, acredito que a maioria possui uma visão crítica e a mentalidade das pessoas das décadas anteriores aparece, na atualidade, associada a uma certa ingenuidade.

AFIRMAÇÕES E PERGUNTAS

Afirmar que "não existe intelectual de direita" representa desconsiderar, por exemplo, a qualidade das obras de José Guilherme Merquior. O que dizer sobre a importância de Nelson Rodrigues para a cultura brasileira? Este tipo de afirmação deve ser entendida mais como uma provação do que como uma verdade.

O mesmo pode ser dito sobre algumas problemáticas, como o título do livro de Jean-Claude Milner: "existe-t-il une vie intellectuelle en France? (Editora Verdier) Se a intenção é criar um debate sobre um determinado tema, é válido colocar a idéia em forma de pergunta e não como uma afirmação.

A reflexão é fundamental no desenvolvimento de qualquer indivíduo. A ausência de perguntas e de discussões livres pode gerar um ambiente totalitário. Foi o que aconteceu quando os líderes do Partido dos Trabalhadores, para chegar no poder, colocaram o debate num segundo plano e privilegiaram temáticas mais "práticas", que, no governo Lula, resultou no "mensalão". Roberto Romano resumiu esse contexto:

"Como não tiveram nem possuem tempo para leituras, dadas as suas perenes tarefas, líderes e boa parte dos militantes petistas não conseguirão dar um golpe de Estado porque 'ditadura' vem de 'art dictaminis' (arte de ditar uma carta a um secretário), técnica retórica exigida pelos governantes e hierarcas religiosos. A raiva contra o pensamento, nas hostes petistas, recorda o dito medieval: 'Rex illiteratus est quasi asinus coronatus' ('Um rei iletrado é um jumento coroado')." [Primeira Leitura, São Paulo, 4 (41): 41, julho 2005]

Em suma, não existe um conflito entre a "prática" e a "teoria". Separá-las é correr o risco de saber menos, cometer erros e assumir posturas autoritárias. Perguntar pode ofender, claro, mas seria melhor levantar uma dúvida do que tentar impor um dogma com uma afirmação.

ESCREVER É NECESSÁRIO

Não estou morto, mas não tenho vida social - nem real, nem "on line". Não sei o que acontece com as pessoas. Ficar isolado seria como ficar "congelado no tempo", fechado em seu próprio mundo enquanto os outros correm e fazem as coisas normalmente. Não reclamo. Foi uma opção.

Ouvir Chopin ou Miles Davis. Fazer caminhadas, sem a preocupação com horários. Ler bastante. Assistir DVDs.

Escrever é necessário. Não sei quantas pessoas lêem meus textos. Não sei o que acham. Não respondo e-mails. Faz meses que não utilizo facebook, twitter, orkut e msn. Na internet, atualizo o meu website e o meu blog. Quando divulgo algo, é a partir do website. Os recados são publicados automaticamente no twitter e no facebook.

Quem quiser saber o que eu penso atualmente, basta ler os textos no blog e no website. São temas variados. Refletem o que penso, leio, ouço e vejo.

Fiquei meio invisível. Existo "através" dos textos. Interessante. Gosto disto... pelo menos, por enquanto...

....................... http://profelipe.weebly.com/

MULTIPLICIDADE DE ESPIRAIS

Houve uma época que eu lia bastante os livros de Domenico de Masi e de Pierre Lévy. Eles tentavam entender o mundo depois da revolução tecnológica proporcionada pelo PC ("personal computer") em 1976. Se o primeiro pensador concentrava seus estudos no tema do ócio, o segundo tentava entender o pensamento diante das recentes mudanças técnicas.

Pierre Lévy debatia o que fazer com a internet, o significado de ciberespaço e avaliava a importância do PC no contexto mundial (ler sobretudo "Sobre a técnica enquanto hipertexto - o computador pessoal" in "As Tecnologias da Inteligência", p. 43-50) No livro Inteligência Coletiva, Lévi associava as "espirais" ao conceito de multiplicidade. Essa última temática havia sido resgatada por Michel Foucault, a partir de suas leituras de Nietzsche. Em outra área, John D. Biroc falava em "infinitas possibilidades", afirmando que o processo da psicoterapia não seria linear. De certa forma, os três pensadores defendiam a mesma premissa, o que não significava que as suas teorias fossem idênticas e nem que eles defenderiam as mesmas hipóteses. Não existiram só dois lados: o certo e o errado. Não seria possível pensar num processo linear. Haveria uma multiplicidade de variáveis. Admitir isso, seria, no ponto de vista de Biroc, admitir o caos.

Em 1994, Pierre Lévy enfatizava: "o tempo não é linear, é múltiplo, é espiral, em turbilhões." (Inteligência Coletiva, p. 210) Entretanto, isso não colocava Lévi como um dos adeptos da teoria do caos, afinal, em 2000, ele defendia que:

"Toda a história do universo é um apetite pelas formas dentre as quais, nós, os humanos, somos o momento de maior êxtase. (...) Se Deus é o explorador universal das formas, isto é, o amor em ato, então é aperfeiçoando sua inteligência coletiva e dilatando a sua consciência em todas as direções que a humanidade se aproxima dele."

Colocar o homem no centro da história do universo é questionável. O seu conceito de Deus lembra a visão de Espinosa, da qual Marilena Chaui é uma da defensoras:

"(...) Ao estudar Espinosa, descobri um Deus (...) que é energia da natureza inteira e do qual somos uma parcela. Cada um de nós é, na sua realização finita, uma expressão dessa força infinita, que é a divindade." (Chaui, Primeira Leitura, 2003, p. 21)

De qualquer maneira, as considerações de Pierre Lévy, em 2000, não deixavam dúvidas quanto a sua diferença diante das perspectivas dos defensores da teoria do caos. Por outro lado, não há como negar a importância, se for pensada como uma ferramenta para a reflexão, da premissa da multiplicidade, das espirais e das "infinitas possibilidades". Contudo, do ponto de pista político, do cotidiano da pessoas, pode ser uma via perigosa, pois pode levar a um relativismo extremo, no qual considerações relacionadas a fome, a dor, a miséria, a concentração de riqueza, entre outras, poderiam ser desconsideradas.

INTERPRETAÇÕES*

* O texto, a seguir, foi publicado com outro título em: OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2011). Unze. Http://profelipego.weebly.com/unze.html

A dor para o indivíduo não é subjetiva ou relativa. Ela é real. Para resolver uma "conseqüência" deve ser procurada a "causa".

Para Freud, a origem estaria no inconsciente e a solução seria o tratamento com a terapia, a conversa entre o psicanalista e o paciente. Para os psiquiatras e os neurocientistas, a origem seria orgânica e o tratamento seria feito com remédios. Para os espíritas e alguns adeptos das teorias orientais, a origem estaria em outras vidas, ou seja, em outras reencarnações. No que diz respeito à psicanálise e ao budismo, Howard Cutler afirma:

"As duas filosofias acreditam que há algo como o inconsciente que registra eventos do passado e moldam nosso comportamento. (...) A diferença é que, segundo o budismo, esses registros podem ter origem em vidas passadas." (Superinteressante, edição 181, p. 49)

Freud não tratou do problema do ponto de vista religioso, mas evitou descartar a existência de outros fenômenos:

"Embora admitamos que esta observações de maneira alguma esgotam a psicologia da superstição, somo levados a tocar numa questão: se devemos negar inteiramente as raízes reais da superstição, se de fato não existem pressentimentos, sonhos proféticos, experiências telepáticas, manifestações de forças sobrenaturais e coisas semelhantes. Estou longe de pretender condenar cabalmente esses fenômenos dos quais tantas observações detalhadas têm sido feitas inclusive por homens de intelecto destacado e que melhor seria transformar em objeto de outras investigações." (Psicopatologia da Vida Cotidiana, p. 225)

Susan Andrews afirma que "de Williams James a Freud, a psicologia ocidental tem pouco mais de 200 anos. (...) Já psicologia oriental estuda esses estados mentais há cerca de 7.000 anos." (Superinteressante, edição 181, p. 49) Ela está correta. Entretanto, a questão não estaria relacionada ao fato de uma teoria ser recente ou não. Os bons resultados dos novos medicamentos, indicados pelos psiquiatrias, levaram muitos a decretar o fim da psicanálise, o que seria um exagero. Alguns não acreditam na relação entre causa e efeito. O que existiria, a partir de "infinitas relações", seria o caos. (John D. Biroc)

Outros acreditam que a memória que causa o sofrimento desapareceria com a morte do indivíduo, pois ela estaria associada ao cérebro. No final de "Blade Runner", o andróide salva seu caçador e diz:

"Eu vi coisas que você não acreditaria. (...) Todos aqueles momentos estarão perdidos no tempo, como as lágrimas na chuva. É hora de morrer."

A memória seria isso? Ela desapareceria com a morte? A resposta, para Bertrand Russell, seria sim. Para esse pensador, "a memória está claramente ligada a um certo tipo de estrutura cerebral que, ao se degradar com a morte, deve fazer cessar também a memória." (Elogio ao Ócio, p. 136)

O cérebro do homem foi desenvolvido a partir de um processo de evolução de 160.000 anos. (PM History, Februar 2004, p. 45) O "melhoramento genético" do homo sapiens permitiu a criação de um cérebro complexo, o que possibilitou o desenvolvimento de características como emoção, razão e memória. O desaparecimento do corpo representaria o fim de todo o resto? E então, qual seria o caminho? Psicanálise? Espiritismo? Budismo? Teoria do caos? Prozac? Lexotan? Zoloft? Rivotril? É difícil dizer. O que leva a afirmação inicial: não saber a resposta não significa que a dor que o indivíduo sente não seja real.

LIBERDADE E MUDANÇAS SOCIAIS - 1945-2011

A indústria farmacêutica atende aos anseios das pessoas na sociedade. Foi assim com a criação da pílula anticoncepcional, em 1960, e com a invenção do viagra, em 1998.

Desde do fim da segunda guerra mundial, em 1945, os indivíduos, no mundo ocidental, estabeleceram novas formas de lidar com a liberdade - "novas" na medida em que havia, ao mesmo tempo, o desenvolvimento da indústria capitalista e a invenção de máquinas, o que facilitaria o cotidiano da sociedade.

Quanto à liberdade, basta lembrar da criação da revista Playboy, em 1954 - antes, nos Estados Unidos, os homens viam as mulheres nuas em forma de desenho, um modelo chamado "pin up" - e do rock and roll em 1955. Na literatura, o destaque era a geração "beat".

Nos anos 1960, houve o fortalecimento dos movimentos que representavam as minorias, como as mulheres e os negros, e ainda o famoso "sexo, drogas e rock and roll", que mudaria o comportamento da juventude. De tudo isso, surgiram lideranças que ficaram associadas às drogas, como o escritor William Burroughs e o professor de Harvard, que seria demitido na época, Timothy Leary. Nos festivais de rock, falava-se abertamente do uso de drogas - ver o filme "Woodstock". Era comum a prisão de músicos, como Keith Richards, Mick Jagger e Jim Morrison, e a morte por overdose, Janis Joplin e Jimi Hendrix, por exemplo.

Na década de 1970, a invenção dos computadores pessoais, por estudantes da Universidade de Stanford, fortaleceria as liberdades individuais. O criador da Apple, Steve Jobs, não escondia que o nome da empresa estava associado aos Beatles. Ele usava drogas e incentivava um novo tipo de comportamento dos jovens da sua empresa. O rock consolidava-se como indústria cultural no final deste período. Os seus representantes - antes rebeldes - passaram a viver como milionários e se comportar como celebridades - o que levou a criação do movimento punk, como forma de resgatar as "raízes" do rock.

Após os anos 1980, os "nerds", que criavam programas para os computadores, seriam os novos milionários, chegando ao ponto de, na década de 1990, ter Bill Gates, criador da Microsoft, classificado como o homem mais rico do mundo.

O trabalho intelectual substituiria o trabalho manual na produção, o que, levaria, como uma de seus conseqüências, ao aumento de doenças mentais na sociedade - como ansiedades, fobias e depressões. Os representantes da indústria farmacêutica trabalhavam para atender uma nova demanda, com a invenção de anti-depressivos mais eficientes, como Prozac e Zoloft.

Após a queda do Muro de Berlim, os países comunistas do leste europeu, em crise, na década de 1990, adotaram a democracia e o capitalismo. Com tantas transformações, o resultado foi um mundo globalizado, pelo menos em termos de meios de comunicação.

Em 2001, com o ataque e a destruição das torres do World Trade Center, houve uma demonstração clara de que havia resistência ao estilo de vida capitalista. Os islâmicos tornaram-se os "vilões" da mídia ocidental e Ozama Bin Laden passou a ser considerado o principal terrorista do mundo. Nos Estados Unidos, "a guerra contra o terror" levou ao movimento de restrições das liberdades individuais e aumento dos poderes ao Estado. Houve um retrocesso.

Em suma, ao longo deste período, depois de 1945, ocorreram várias guerras e o fortalecimento da indústria bélica, mesmo considerando o risco de um conflito nuclear, que poderia levar ao fim da humanidade.

O século XXI está apenas no começo. Difícil saber como serão as próximas décadas. Provavelmente, os conflitos e as guerras não acabarão. A indústria "global" trará inovações tanto em relação aos armamentos quanto aos remédios que melhorarão a vida dos indivíduos no cotidiano. Esse processo deve continuar. O questão seria saber até quando... O profeta Nostradasmus e os Maias estabeleceram um ano limite: 2012. Será?

PSICOTERAPIA

Na televisão ou no cinema, alguns personagens solteiros e independentes recorrem à psicanálise. Penso em dois exemplos: a série "Two and Half Men" e o filme "The Thomas Crown Affair".

Leio Freud. Fiz psicoterapia entre 1995 e 2009. Não tive alta, claro, "já que o processo analítico é, por natureza, interminável." Entrei naquilo que Renato Mezan chamou de "dissolução da transferência", ou seja: ser "capaz de prosseguir o processo psicanalítico sem a presença de um analista diferente de si." (A Vingança da Esfinge, p. 41)

A minha intenção, aqui, não é dizer por que comecei a fazer terapia e nem por que parei. Aliás, quando penso em voltar, imagino várias sessões discutindo essas problemáticas. Contudo, acho difícil voltar para o processo psicanalítico.

Tomei anti-depressivos receitados psiquiatras. Um deles suicidou. Fato significativo se for levado em consideração a profissão dele. Conheci um analista que suicidou também. Nos dois casos, me intrigou o fato que eles eram profissionais que ouviam os problemas dos outros. Quem escolhe essas profissões, pode estar pensando em ganhar dinheiro, mas imagino que, na prática, o profissional seria obrigado a lidar com muitos fantasmas que assustam a mente humana e isso o afetaria, direta ou indiretamente. Em outras palavras, escolher estar nesse meio profissional já seria uma caso que necessitaria de psicoterapia.

AUTORES E LEITORES

Sempre que posso, procuro explicar que os meus textos opinativos são diferentes das minhas teses e outros livros.

A pesquisa em história é um trabalho muito difícil e muito sério.

Os textos opinativos são leves, são comentários sobre o cotidiano sem comprovação de fontes ou de documentos. Refletem a minha opinião sobre um fato, num determinado momento, não mais do que isso.

Talvez os textos opinativos possam servir de fonte para algum psicanalista (ou leitor) que queira entender a minha personalidade. Existem, falhas, contradições, que, se for feita uma leitura freudiana dos textos, não ocorreriam por acaso. Sem problemas. Qualquer pessoa está sujeita a análise do outro, tanto no processo terapêutico como naquilo que escreve ou mesmo nos atos do dia a dia.

Eric Hobsbawm, para não ver confundida a sua atividade de historiador com o seu interesse pela música, publicou a "História Social do Jazz" sob o pseudônimo de Francis Newton. Em edições posteriores, o livro saiu com o seu nome verdadeiro.

Acredito que não seria necessário utilizar pseudônimos para separar os trabalhos científicos e os textos opinativos de um autor. Um bom leitor saberia identificar a diferença. O outro tipo de leitor, aquele ingênuo ou interessado em fazer críticas parciais e superficiais, não deve ser levado a sério.

sexta-feira, 18 de março de 2011

FIM DA HISTÓRIA?

No início da década de 1990, houve uma euforia quanto ao fim da União Soviética. Isso levou, por parte de Francis Fukuyama, a retomada do debate sobre o "fim da História". Ele sofreu críticas de vários autores. Stuart Sim resumiu a postura de Jacques Derrida na polêmica:

"The 'end of history' is not the good news that Fukuyama believes it to be; not is we have any desire at all to contest the balance of economic and political power that currently prevails in our world. I may have taken a while to establish it with certainty, and kept many in suspense in the interim, but, ultimately, Derridean deconstruction is on the side of left-wings angels." (Derrida and the End of History, p. 63)

A realidade, depois de quase duas décadas, mostrou que o otimismo de Fukuyama estava errado. O capitalismo globalizado acirrou as diferenças sociais em todo o mundo e reforçou a acumulação de riquezas nas mãos de poucos. A crise do socialismo real não demonstrou que a resposta seria o modo de produção capitalista. As ditaduras no leste europeu estavam erradas, assim como sempre foi equivocado o individualismo proposto pelos liberais.

Em 1994, Viviane Forrester já denunciava as falhas da ideologia:

"Et il n'est pas question aujourd'hui d'une 'fin de histoire', como on a tenté de nous en persuader; mais d'un déchaînement de l'Histoire, au contraire, comme jamais agitée, manipulée commo jamais, dans un sens unique , vers une 'pensée unique' axée, malgré l'élégante efficacité de certains camouflages, vers le profit." (L'Horreur Économique, p. 131)
A dificuldade de lutar contra esse "pensamento único" permanece ainda em 2011. A associação entre capitalismo e modernização, sobretudo com o avanço das novas tecnologias, acabou sendo aceita pela maioria. O individualismo parece ser a norma e o consumismo aparece como a resposta imediata num mundo onde existe cada vez mais miséria e desemprego. As multinacionais demitem milhares de trabalhadores e os seus lucros aumentam. Qual seria o sentido de tudo isso? Lucro. Acumular capital. Os problemas decorrentes deste processo parecem não afetar a elite. O aumento no número de "homeless", na violência e na criminalidade, inclusive nos países ricos, é mostrado como algo "natural" do desenvolvimento.

Não existe alternativa? Pelo menos até hoje, as esquerdas e os opositores do capitalismo não souberam elaborar um projeto global que servisse de contraponto ao neoliberalismo globalizado. Então, como diria Lênin, o que fazer? Está aí uma boa pergunta.

TRUTH AND RELIGION

The truth will not set you free. Nothing can save you. Jean-Paul Sartre was right:

"il faut qui l'homme se retrouve lui même et se persuade que rien ne peut le sauver de lui-même, fût-ce une preuve valable de l'existence de Dieu." (Gallimard, p. 77-78)

The problem is not the existence of God or not. It is not about truth either.

The man borns and dies. He lives in a material world. However, he knows there's something else. The question is what. In fact, he can't know because he's just human. The power of religion comes from here: the unknown.

The man depends on nature. Nature depends on the sun. Man knows it. To live better means to understand the nature. It depends on the movements of earth, which it's in relation with the sun.

The answer is in the sky: sun and stars. What's called astrology helps the knowledge of the man about nature and about his living in this planet.

It helps to build the religions. They gave power to a minority. Men didn't find the answer of life or God or existence, but they found the way to control other men.

Religion became ideology and it gave power to a minority to control the majority. Religion's still there with other ideologies and their instruments, such as: school, politics and midia.

Nowadays, people don't mind about the meaning of life. They care about money and how they can get it and, at the same time, they can control the others.

People wear masks of ideolgy to get what they want. Nothing's clear. Everything became a game. The intention is not to understand life or God. It's simply to get richer and to control the society. That's it.

DRUGS AND LAWS

Selmane Felipe de Oliveira, PhD

Timothy Leary and William Burroughs were into drugs. Kurt Cobain and other musicians too. There was a "dream machine" on Cobain's suicide. It was a thing "patended by William Burroughs collaborator Brion Gysin. A dream machine is a cylinder with light source inside that routes, causing the light to flash 10.56 times per second, which resonates with the brain, causing alpha waves to be produced and inducing a trance-like state." (Vox, November 1995, p. 28)

Basically, it works as a drug and it may cause suicide. However, as the free use of the tea of "santo daime" in Brazil - for some people, it's drug -, the United States Government was not against the dream machines. For the American Food and Drug Administration, "they posed no danger to the user." (Vox, November 1995, p. 28)

Drug and law depend on each country. Dream machine and santo daime's tea make people feel different. Their vision of reality is like a fantasy. That's what a drug normally does.

If you take cocaine, for example, it's wrong and against the law, but if you use dream machine or santo daime's tea, there's no problem. Alcohol and cigarretes are bad.. what about the laws?

To take drugs on the pubs in Rio de Janeiro, New York or Amsterdam will be not the same thing. If you are in Brazil or U.S.A., you'll have problems with the police.

Law is not based on truth.

The government depends on corporations. Nobody cares about healthy. It's just business.

DEPRESSION AND SUICIDE

We live on the XXI century and people don't talk about their depression, because they think who's called "normal" may think they are weaky or crazy. It's a "invisble" disease: people feel pain and it's the main cause of suicide in the world.

However, after Prozac's pills and the theories of Freud, Lacan and the Foucault's history of madness, there are still people who believe depression doesn't even exist. Normally, it's said it's a women's diisease. Maybe because it's a emotional one and men are supposed to be into to the reason. Women talk. Men don't. Women can be weaky. Men can't show their feelings. They say these are facts. Maybe. It's a ideology too. People believe in that.

If you "read" a men's magazine - as Playboy -, normally you will find articles about cars and pictures of naked women. If you read a Cosmopolitan or Elle, probablly it will be easier to find an article about depression. For example, an old article was published on Elle's United Kingdom - August 1993:

"Depression is not 'all in the mind', or a sign of weak character. Sufferers can go from what doctors describe as the cognitive stage, where the bleakness of their felling seems impossible to shake, to the biological stage (...)." (p. 141)

Jan Scott, still on the article, said that "in cases of depression with biological symptons, it is unlikely that these can be simply willed away. The symptoms arise from imbalance (which is the function of the tablets) is necessary to recovery the process." (p. 142) On other words, psycotherapy would not be enough to help a person.

There are two serious problems about it. One, the patients normally don't like to talk about their depression. Two, family and friends think it does not really exists, because they don't suffer "that kind of feeling". That's why so many people suicide.

There's not only one solution. Psycotherapy helps. Family and friends can talk to the patients. If there is "a biological stage", it will be necessary the anti-depressants. And, the most important sympton, if the patients talk about suicide, everybody should take it seriouly.

DEATH: THE FINAL FRIEND

Selmane Felipe de Oliveira, PhD

I'm not in the mood. I know few people read what I write. So, today, I'll write in English, anyway.

Life's not good. It's just a long way home... Of course, in the end, home's death.

Why are we here? Basically, because sex's good and people (parents) don't think...

Well, they "think": fuck the future, my pleasure is now. The problem is: nine months after that night, "the future" arrives and it´s you.

As a child, everything's new. Soon, you realize new is not (always) good. It's a bad start. After that, things get worse, much worse...

You wait: "well, someday, it's gonna be better". It never does.

So, why are you still here?

Some people are afraid of dying. They imagine they'll go to hell. If they believe in that, probably they deserve it.

Others think on their children... Well, YOU made them. They didn't ask anything. It was just a saturday night thing. And you called it "love". Please.

Some people are still in this world to make other's life a hell. They like to destroy the hopes and the pleasures of anyone. They love to make you suffer... This place's for them: they hate and they lie. They don't care about anything.

And you feel guilty. You feel pain. You don't know why you are here. You don't know the meaning of life. And, yet, it's all your fault ?!

Someone said God's a adult's imaginary friend. We need to believe in something: God, love, future... anything...

But it's just our imagination. Life makes no sense. However, it hurts. The pain's real.

There's a Rolling Stones' song called "waiting on a friend." The friend never comes. At last, the friend's death. Good news, finally.

Everybody dies. The problem is the future (with our "friend") never comes. It's boring...

sexta-feira, 11 de março de 2011

O MUNDINHO DO FELIPE

Uma pessoa referiu-se ao meu isolamento como "o mundinho do Felipe". Interessante. Imagino que cada um deva ter o seu "mundinho". Mas o que seria isso?

Vejamos uma seqüência: indivíduo, bairro, cidade, estado, país, continente e planeta. A mente do indivíduo pode ser o seu mundo, assim como o seu bairro e os outros exemplos citados. A pessoa viveria no "mundo dela". As barreiras podem ser reais - uma cela numa prisão, por exemplo - ou subjetivas. Sêneca, em outro contexto, afirmou:

"o mesmo cárcere cercou todo mundo, e presos foram também os que prenderam." (Sobre a Tranqüilidade da Alma, p. 47)

Além do presídio, o indivíduo pode ser condenado a uma prisão domiciliar. Ou seja, não pode sair de sua residência. Ele pode ficar livre durante o dia, mas deve passar a noite na cela. Ele pode ser proibido de deixar o país em que vive. Os limites definem a punição. Qual seria o espaço que uma pessoa necessitaria para viver? Todos conhecem "os cachorros de apartamento". Os veterinários costumam dizer: tal raça precisa de um espaço assim e a outra precisa de um espaço maior.

No caso do homem, o seu espaço real seria o planeta. Ele não vive fora dele. Nesta perspectiva, o planeta seria seu "cárcere". Muitos passaram a vida sem deixar o país em que nasceram. Outro limite. Poucos nunca saíram da cidade, conhecem efetivamente apenas aquele lugar e aquelas pessoas (o resto vê na TV, mas como forma de representação e não como algo real, próximo dos seus sentidos). Alguns médicos costumavam dizer que os loucos estavam aprisionados em suas mentes.

Kurt Cobain, falando sobre John Lennon, numa entrevista à revista Rolling Stone, disse:

"Eu realmente senti muita pena dele. Ficar trancado naquele apartamento. Embora ele estivesse completamente apaixonado por Yoko e o filho, a vida dele era uma prisão."

O homem vive necessariamente numa prisão. Ele não pode ir além de um determinado limite, seja a sua mente, a sua cela (num presídio), a sua cidade, o seu país ou o seu planeta. Ele é livre dentro do espaço em que ele vive. Ele é livre dentro do tipo de prisão em que vive. Pensando em coisas como o planeta ou a morte, de certa forma, todos vivem limitados pelo "mesmo cárcere".

EGO JORNALISMO

Teoricamente, o jornalista é um profissional que resume ou analisa um fato que aconteceu. O importante é o fato. Porém, nos últimos tempos, aparece cada vez mais o chamado "Ego Journalism", ou seja, o jornalista se considera mais importante do que a notícia ou do que o entrevistado.

É comum em críticas de shows musicais, o jornalista falar dele mesmo, fazer análises (pseudo) filosóficas e só no final fazer considerações sobre o seu objeto. Toni Iommi ficou indignado com uma crítica que o seu grupo Black Sabbath recebeu nos Estados Unidos, publicada num jornal. O problema não foi o conteúdo da crítica e sim que, por algum motivo, o show não pôde ser realizado ! O jornalista publicou uma crítica de algo que simplesmente não aconteceu.

Pela natureza do seu trabalho, o fotógrafo não deveria aparecer nas fotos que tira. Não é o que acontece. Existe fotógrafo que dá um jeito da "sua" sombra aparecer na foto. Outros aparecem nos espelhos, atrás do seu objeto, uma celebridade, como que querendo fazer parte de um mundo que não é o seu. Esse é o dilema do jornalista. Ele entrevista presidentes, participa de banquetes, é convidado para trabalhar em eventos e festas de milionários, mas ele não pertence aqueles lugares.

Na entrevista de Vladimir Zhirinovsky à Plaboy norte-americana, a jornalista Jennifer Gould tentou chamar mais a atenção para si do revelar o pensamento do entrevistado. Em vários trechos da entrevista, ela abre parênteses e coloca a sua opinião, em itálico, sobre o que estava acontecendo e qual era o seu ponto de vista. Chega um momento que o leitor, interessando em ler sobre as idéias de Zhirinovsky, questiona quem seria Jennifer Gould ? O que ela teria a ver com o entrevistado ? Nada. É uma jornalista que aproveitou o interesse do público pelo seu entrevistado para aparecer, para mostrar a sua opinião. Ela levanta questões sobre o assédio sexual sofrido por jornalistas - temática polêmica, que deveria ser tratada nos tribunais ou em congressos da categoria. Ela chega afirmar que as mulheres trazem "para o mundo - somente coisas positivas" (p. 154) ao invés de se preocupar em mostrar o ponto de vista do entrevistado.

Muitas vezes, a vaidade é associada aos profissionais que atuam na comunicação social, como no jornalismo, nas relações públicas, na publicidade e na propaganda. Sem problemas. O que não pode acontecer é uma confusão nos papéis. Especificamente no caso do jornalista, não dá para querer ter mais destaque do que a notícia que deve ser divulgada.