sexta-feira, 11 de março de 2011

O MUNDINHO DO FELIPE

Uma pessoa referiu-se ao meu isolamento como "o mundinho do Felipe". Interessante. Imagino que cada um deva ter o seu "mundinho". Mas o que seria isso?

Vejamos uma seqüência: indivíduo, bairro, cidade, estado, país, continente e planeta. A mente do indivíduo pode ser o seu mundo, assim como o seu bairro e os outros exemplos citados. A pessoa viveria no "mundo dela". As barreiras podem ser reais - uma cela numa prisão, por exemplo - ou subjetivas. Sêneca, em outro contexto, afirmou:

"o mesmo cárcere cercou todo mundo, e presos foram também os que prenderam." (Sobre a Tranqüilidade da Alma, p. 47)

Além do presídio, o indivíduo pode ser condenado a uma prisão domiciliar. Ou seja, não pode sair de sua residência. Ele pode ficar livre durante o dia, mas deve passar a noite na cela. Ele pode ser proibido de deixar o país em que vive. Os limites definem a punição. Qual seria o espaço que uma pessoa necessitaria para viver? Todos conhecem "os cachorros de apartamento". Os veterinários costumam dizer: tal raça precisa de um espaço assim e a outra precisa de um espaço maior.

No caso do homem, o seu espaço real seria o planeta. Ele não vive fora dele. Nesta perspectiva, o planeta seria seu "cárcere". Muitos passaram a vida sem deixar o país em que nasceram. Outro limite. Poucos nunca saíram da cidade, conhecem efetivamente apenas aquele lugar e aquelas pessoas (o resto vê na TV, mas como forma de representação e não como algo real, próximo dos seus sentidos). Alguns médicos costumavam dizer que os loucos estavam aprisionados em suas mentes.

Kurt Cobain, falando sobre John Lennon, numa entrevista à revista Rolling Stone, disse:

"Eu realmente senti muita pena dele. Ficar trancado naquele apartamento. Embora ele estivesse completamente apaixonado por Yoko e o filho, a vida dele era uma prisão."

O homem vive necessariamente numa prisão. Ele não pode ir além de um determinado limite, seja a sua mente, a sua cela (num presídio), a sua cidade, o seu país ou o seu planeta. Ele é livre dentro do espaço em que ele vive. Ele é livre dentro do tipo de prisão em que vive. Pensando em coisas como o planeta ou a morte, de certa forma, todos vivem limitados pelo "mesmo cárcere".