É comum ver nos jornais oportunidades de emprego e dicas de psicólogos e de professores. No programa Fantástico, existe um quadro, "O Meu Primeiro Emprego", quando são apresentadas experiências no mercado de trabalho - como a humilhação de um engenheiro novato numa sala de reuniões cheia de gente - e conselhos para fazer sucesso - o erro seria do engenheiro e não da empresa. Sério ?! Don Tapscott, em entrevista publicada na Veja (13/04/2011, p. 23) , desmistificou esse discurso:
"Os jovens de hoje cresceram ouvindo que se estudassem com dedicação e não se metessem em problemas teriam uma vida confortável na idade adulta. Mentimos para eles. Chegaram ao mercado de trabalho e não há emprego."
Mesmo antes de Tapscott, "L'Horreur Économique" de Viviane Forrester (1996) e "Bonjour Paresse" de Corinne Maier (2004) já denunciavam o discurso da globalização e da ideologia neoliberal. Para Maier:
"E você se vê obrigado a ser comercial de si mesmo. É preciso saber 'se vender', como se personalidade fosse um produto com valor de mercado. Para Tom Peters, guru grandiloqüente da nova economia, ter sucesso é fazer de si mesmo uma sociedade comercial - a marca 'Você'."
O problema é que o discurso não corresponde a realidade. Não existem empregos para todos. A culpa seria de quem? Na perspectiva da ideologia, a empresa oferece o emprego e se a pessoa não consegue se manter no trabalho, a culpa é dela. Maier ironiza esse jogo:
"Se eliminamos o seu cargo, é sinal de que você foi incapaz de demonstrar a sua utilidade, não soube valorizar a sua função, despertar o interesse do cliente etc. Na verdade, é claro, a culpa é sua!"
O que seria resultado de um problema social, torna-se, como numa mágica, uma crise pessoal. A pessoa é culpada por ser explorada, manipulada e, em seguida, excluída do mercado de trabalho. De fato, trata-se de um jogo injusto. Afinal, ainda de acordo com Corinne Maier, "existe uma relação de força desigual em um mercado que põe face a face um assalariado sozinho, precisando trabalhar, e uma empresa altamente estruturada e sempre disposta a tirar proveito das oportunidades apresentadas pelo direito do trabalho."
O resultado deste processo pode ser percebido diariamente por todos os indivíduos. Sofrem mais aqueles que são alienados, que se sentem culpados e que acreditam na "mão invisível" do mercado.