terça-feira, 19 de abril de 2011

HEIDEGGER & LUKÀCS

Li Nietzsche, pela primeira vez, na graduação. Como qualquer pessoa, fiquei impressionado na época. Atualmente, estou lendo Martin Heidegger. Na verdade, as leituras de Heidegger sobre Nietzsche, em duas obras: "Nietzsche - Metafísica e Niilismo" (Relume Dumará) e "Was heisst denken?" (Reclam).

Heidegger impressionou os filósofos sobretudo com as suas idéias apresentadas no livro "O Ser e o Tempo". Georg Lukàcs (História e Consciência de Classe, p. 362) em "Posfácio de 1967" comentou sobre o livro:

"(...) Lucien Goldmann (...) via na obra de Heidegger uma réplica polêmica ao meu livro ["História e Consciência de Classe" ], se bem que ele não seja aí mencionado."

De fato, eram duas referências filosóficas distintas. Se Heidegger utilizava as premissas de Nietzsche, Lukàcs seguia os princípios marxistas.

Na apresentação da teoria de Heidegger na coleção Os Pensadores (p. 9), é dito: [angústia = causa no mundo como um todo e em estado puro]

"Não tendo coisa alguma como causa do mundo, a angústia teria sua fonte no mundo como um todo e em estado puro. O mundo surge diante do homem, aniquilando todas as coisas particulares que o rodeiam e, portanto, apontando para o nada. O homem sente-se, assim, como um 'ser-para-a-morte'.

A partir desse estado de angústia, abre-se para o homem (...) uma alternativa: fugir de novo para o esquecimento de sua dimensão mais profunda, isto é, o ser, e retornar ao cotidiano; ou superar a própria angústia, manifestando seu poder de transcendência sobre o mundo e sobre si mesmo.

(...) A inquietação estrutura o ser do homem dentro da temporalidade, prendendo-o ao passado, mas, ao mesmo tempo, lançando-o para o futuro. Assumindo seu passado e, ao mesmo tempo, seu projeto de ser, o homem afirma sua presença no mundo. Ultrapassa então o estágio da angústia e toma o destino nas próprias mãos."

Sêneca, antes de Heidegger, já afirmava: "para a morte nasceste (...) pois então escreve para ocupar o tempo em teu proveito." (Sobre a Tranqüilidade da Alma, p. 19) Para escrever é necessário a reflexão.

Na citação do Heidegger, além de colocar o homem como um "ser-para-a-morte", o cotidiano é mostrado como uma fuga de si. A alternativa seria a angústia associada à temporalidade e sua origem estaria "no mundo como um todo e em estado puro."

Certamente a reflexão sobre "o" homem (fora do contexto da luta de classes) e o uso de termos como "estado puro" não seriam utilizados por Georg Lukàcs.