sexta-feira, 8 de abril de 2011

INTERPRETAÇÕES*

* O texto, a seguir, foi publicado com outro título em: OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2011). Unze. Http://profelipego.weebly.com/unze.html

A dor para o indivíduo não é subjetiva ou relativa. Ela é real. Para resolver uma "conseqüência" deve ser procurada a "causa".

Para Freud, a origem estaria no inconsciente e a solução seria o tratamento com a terapia, a conversa entre o psicanalista e o paciente. Para os psiquiatras e os neurocientistas, a origem seria orgânica e o tratamento seria feito com remédios. Para os espíritas e alguns adeptos das teorias orientais, a origem estaria em outras vidas, ou seja, em outras reencarnações. No que diz respeito à psicanálise e ao budismo, Howard Cutler afirma:

"As duas filosofias acreditam que há algo como o inconsciente que registra eventos do passado e moldam nosso comportamento. (...) A diferença é que, segundo o budismo, esses registros podem ter origem em vidas passadas." (Superinteressante, edição 181, p. 49)

Freud não tratou do problema do ponto de vista religioso, mas evitou descartar a existência de outros fenômenos:

"Embora admitamos que esta observações de maneira alguma esgotam a psicologia da superstição, somo levados a tocar numa questão: se devemos negar inteiramente as raízes reais da superstição, se de fato não existem pressentimentos, sonhos proféticos, experiências telepáticas, manifestações de forças sobrenaturais e coisas semelhantes. Estou longe de pretender condenar cabalmente esses fenômenos dos quais tantas observações detalhadas têm sido feitas inclusive por homens de intelecto destacado e que melhor seria transformar em objeto de outras investigações." (Psicopatologia da Vida Cotidiana, p. 225)

Susan Andrews afirma que "de Williams James a Freud, a psicologia ocidental tem pouco mais de 200 anos. (...) Já psicologia oriental estuda esses estados mentais há cerca de 7.000 anos." (Superinteressante, edição 181, p. 49) Ela está correta. Entretanto, a questão não estaria relacionada ao fato de uma teoria ser recente ou não. Os bons resultados dos novos medicamentos, indicados pelos psiquiatrias, levaram muitos a decretar o fim da psicanálise, o que seria um exagero. Alguns não acreditam na relação entre causa e efeito. O que existiria, a partir de "infinitas relações", seria o caos. (John D. Biroc)

Outros acreditam que a memória que causa o sofrimento desapareceria com a morte do indivíduo, pois ela estaria associada ao cérebro. No final de "Blade Runner", o andróide salva seu caçador e diz:

"Eu vi coisas que você não acreditaria. (...) Todos aqueles momentos estarão perdidos no tempo, como as lágrimas na chuva. É hora de morrer."

A memória seria isso? Ela desapareceria com a morte? A resposta, para Bertrand Russell, seria sim. Para esse pensador, "a memória está claramente ligada a um certo tipo de estrutura cerebral que, ao se degradar com a morte, deve fazer cessar também a memória." (Elogio ao Ócio, p. 136)

O cérebro do homem foi desenvolvido a partir de um processo de evolução de 160.000 anos. (PM History, Februar 2004, p. 45) O "melhoramento genético" do homo sapiens permitiu a criação de um cérebro complexo, o que possibilitou o desenvolvimento de características como emoção, razão e memória. O desaparecimento do corpo representaria o fim de todo o resto? E então, qual seria o caminho? Psicanálise? Espiritismo? Budismo? Teoria do caos? Prozac? Lexotan? Zoloft? Rivotril? É difícil dizer. O que leva a afirmação inicial: não saber a resposta não significa que a dor que o indivíduo sente não seja real.