sexta-feira, 8 de abril de 2011

MULTIPLICIDADE DE ESPIRAIS

Houve uma época que eu lia bastante os livros de Domenico de Masi e de Pierre Lévy. Eles tentavam entender o mundo depois da revolução tecnológica proporcionada pelo PC ("personal computer") em 1976. Se o primeiro pensador concentrava seus estudos no tema do ócio, o segundo tentava entender o pensamento diante das recentes mudanças técnicas.

Pierre Lévy debatia o que fazer com a internet, o significado de ciberespaço e avaliava a importância do PC no contexto mundial (ler sobretudo "Sobre a técnica enquanto hipertexto - o computador pessoal" in "As Tecnologias da Inteligência", p. 43-50) No livro Inteligência Coletiva, Lévi associava as "espirais" ao conceito de multiplicidade. Essa última temática havia sido resgatada por Michel Foucault, a partir de suas leituras de Nietzsche. Em outra área, John D. Biroc falava em "infinitas possibilidades", afirmando que o processo da psicoterapia não seria linear. De certa forma, os três pensadores defendiam a mesma premissa, o que não significava que as suas teorias fossem idênticas e nem que eles defenderiam as mesmas hipóteses. Não existiram só dois lados: o certo e o errado. Não seria possível pensar num processo linear. Haveria uma multiplicidade de variáveis. Admitir isso, seria, no ponto de vista de Biroc, admitir o caos.

Em 1994, Pierre Lévy enfatizava: "o tempo não é linear, é múltiplo, é espiral, em turbilhões." (Inteligência Coletiva, p. 210) Entretanto, isso não colocava Lévi como um dos adeptos da teoria do caos, afinal, em 2000, ele defendia que:

"Toda a história do universo é um apetite pelas formas dentre as quais, nós, os humanos, somos o momento de maior êxtase. (...) Se Deus é o explorador universal das formas, isto é, o amor em ato, então é aperfeiçoando sua inteligência coletiva e dilatando a sua consciência em todas as direções que a humanidade se aproxima dele."

Colocar o homem no centro da história do universo é questionável. O seu conceito de Deus lembra a visão de Espinosa, da qual Marilena Chaui é uma da defensoras:

"(...) Ao estudar Espinosa, descobri um Deus (...) que é energia da natureza inteira e do qual somos uma parcela. Cada um de nós é, na sua realização finita, uma expressão dessa força infinita, que é a divindade." (Chaui, Primeira Leitura, 2003, p. 21)

De qualquer maneira, as considerações de Pierre Lévy, em 2000, não deixavam dúvidas quanto a sua diferença diante das perspectivas dos defensores da teoria do caos. Por outro lado, não há como negar a importância, se for pensada como uma ferramenta para a reflexão, da premissa da multiplicidade, das espirais e das "infinitas possibilidades". Contudo, do ponto de pista político, do cotidiano da pessoas, pode ser uma via perigosa, pois pode levar a um relativismo extremo, no qual considerações relacionadas a fome, a dor, a miséria, a concentração de riqueza, entre outras, poderiam ser desconsideradas.