sexta-feira, 8 de abril de 2011

AFIRMAÇÕES E PERGUNTAS

Afirmar que "não existe intelectual de direita" representa desconsiderar, por exemplo, a qualidade das obras de José Guilherme Merquior. O que dizer sobre a importância de Nelson Rodrigues para a cultura brasileira? Este tipo de afirmação deve ser entendida mais como uma provação do que como uma verdade.

O mesmo pode ser dito sobre algumas problemáticas, como o título do livro de Jean-Claude Milner: "existe-t-il une vie intellectuelle en France? (Editora Verdier) Se a intenção é criar um debate sobre um determinado tema, é válido colocar a idéia em forma de pergunta e não como uma afirmação.

A reflexão é fundamental no desenvolvimento de qualquer indivíduo. A ausência de perguntas e de discussões livres pode gerar um ambiente totalitário. Foi o que aconteceu quando os líderes do Partido dos Trabalhadores, para chegar no poder, colocaram o debate num segundo plano e privilegiaram temáticas mais "práticas", que, no governo Lula, resultou no "mensalão". Roberto Romano resumiu esse contexto:

"Como não tiveram nem possuem tempo para leituras, dadas as suas perenes tarefas, líderes e boa parte dos militantes petistas não conseguirão dar um golpe de Estado porque 'ditadura' vem de 'art dictaminis' (arte de ditar uma carta a um secretário), técnica retórica exigida pelos governantes e hierarcas religiosos. A raiva contra o pensamento, nas hostes petistas, recorda o dito medieval: 'Rex illiteratus est quasi asinus coronatus' ('Um rei iletrado é um jumento coroado')." [Primeira Leitura, São Paulo, 4 (41): 41, julho 2005]

Em suma, não existe um conflito entre a "prática" e a "teoria". Separá-las é correr o risco de saber menos, cometer erros e assumir posturas autoritárias. Perguntar pode ofender, claro, mas seria melhor levantar uma dúvida do que tentar impor um dogma com uma afirmação.