segunda-feira, 27 de agosto de 2012

INTERNET, GLOBALIZAÇÃO E CAPITALISMO

Karl Marx já denunciava, no século XIX, as "tendências globais" do capitalismo e a transformação do homem em uma "mercadoria".

A partir da revolução tecnológica proporcionada pelo computador pessoal e pela Internet, tudo isso aparece mais claro aos olhos de todos e muitos pensadores - como Domenico de Masi e Pierre Lévi - tentam explicar o mundo atual. Conseguem? Não. As transformações são muito rápidas.

Alguns intelectuais, mesmo assim, tentam apresentar uma "resposta" para o que estaria ocorrendo no mundo. Na maioria dos casos, porém, aparecem mais palavras de ordem ou expressões gerais que servem para impressionar sobretudos as pessoas da classe média - consumistas e individualistas.

Andrew Keen utiliza termos como:

"a superexposição dos usuários,
(...) a 'doutrina da multidão' 
(...) 'geração sem mistério'
(...) 'ditadura da ignorância'." *

Interessa aos capitalistas descartar as diferenças individuais e tratar as pessoas como uma "massa de consumo". Doutrina da multidão? Provavelmente... mas sempre foi assim de acordo com os princípios desse sistema.

Para atingir os seus interesses e apresentar os seus objetivos particulares como a vontade da maioria, interessava às lideranças burguesas formar indivíduos alienados, pessoas incapazes de perceber que o que existira por trás desse discurso hegemônico. Ditadura da ignorância? Claro. Entretanto, isso é uma base do modo de produção e não algo criado recentemente.

O problema da 'superexposição dos usuários' da Internet não seria apenas produzir uma 'geração sem mistério'. A questão estaria, provavelmente, na causa de tal exibicionismo. O elogio da ostentação também não é algo novo ao capitalismo. Os indivíduos tentam criar, com seus bens materiais - financiados a longo prazo - uma realidade que não é verdadeira, ou seja, todos querem "parecer" ricos e bonitos. As ferramentas da Internet - como Facebook ou Twitter - somente facilitam esse processo.
Em suma, o capitalismo não mudou. O que aconteceu, com a tecnologia atual, foi um reforço de princípios que duram séculos.

* http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/twitter-e-facebook-vao-acabar-com-segredos-das-pessoas

quinta-feira, 12 de julho de 2012

POLÍTICA: JOGO DE XADREZ?

O ex-presidente Lula acredita que realmente é especial e que a sua popularidade lhe daria poderes especiais, como pressionar e chantagear um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) no sentido de adiar o julgamentos dos seus amigos no processo do "mensalão". Parece que Lula acredita ainda que as pessoas não lembram da sua oposição radical ao Paulo Maluf. A aliança com o ex-governador de São Paulo - com direito a uma foto histórica - deveria constranger qualquer petista que conhece a história do partido. A crença em "poderes especiais" pode ser explicada pelo poder que Lula exerce no Partido dos Trabalhadores, mas não há como negar também o papel dos dirigentes dos meios de comunicação de massa que insistem em não mostrar os grandes erros do seu governo. O mais óbvio e que não é debatido é o aumento no número de funcionários públicos, inclusive na ampliação de unidades do ensino superior. Ampliar, contratar e criar novas despesas era uma tarefa fácil para o ex-presidente - que conseguia a simpatia dos trabalhadores, sindicalistas e, portanto, obtinha um aumento em termos de votos nas eleições. O problema, claro, seria do seu sucessor, que teria que pagar os salários e cuidar da manutenção adequada das novas e das antigas unidades do governo federal. Esse é o problema da presidente Dilma. A greve nas universidades federais é justa, mas o problema não foi criado pela presidente atual. O mentor do projeto foi p ex-presidente Lula e a presidente Dilma não pode denunciá-lo não apenas por ser do mesmo partido político mas sobretudo por vê-lo como seu "padrinho político". É o que, entre alguns pensadores da esquerda, chamam de "complexo da dívida". Em 2009, no portal Terra aparecia uma matéria com o título: "Número de funcionários públicos cresce 11,75% no governo Lula". Os dados eram claros: "O Executivo federal tem hoje 542.843 servidores civis ativos, um acréscimo de 11,75% em relação aos 485.741 servidores no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. De acordo com o secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Marcelo Viana, houve a contratação de mais 57.102 servidores de 2003 até agora. Deste total, mais de 29 mil contratações ocorreram na área de educação, sendo 14 mil professores." * No Valor Econômico, em 09/07/2012, diante de uma "ameaça de greve geral", Lula era lembrado: "O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a sua experiência de sindicalista, certa vez comparou a greve dos funcionários públicos a férias remuneradas. Por isso, no Brasil de hoje, existem trabalhadores de primeira e de segunda categoria: os servidores públicos, com todas as suas vantagens e um direito de greve especial; e os trabalhadores da iniciativa privada." ** A greve geral seria algo justificável, de acordo com o presidente da CUT, Artur Henrique: " 'Não dá para retroceder em relação aos oito anos de governo Lula (...) Não dá para esticar essa corda', diz, cobrando uma resposta rápida do governo, o que, segundo ele, poderia evitar uma greve geral dos servidores." *** Seria uma luta dos petistas contra petistas? O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, na mesma matéria do jornal Estado de São Paulo, afirma que trata-se de "um jogo de xadrez bem complexo." *** Complexo? Por quê? O problema seria como resolver uma crise iniciada pela liderança do PT sem "manchar a imagem" do Lula? O "jogo de xadrez" contará com novas "peças" do STF no julgamento do "mensalão" em agosto. Nesta nova etapa, provavelmente será mais difícil manter "limpa" a história política do ex-presidente Lula. * Número de funcionários públicos cresce 11,75% no governo Lula. 06/10/2009. http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4024735-EI7896,00-Numero+de+funcionarios+publicos+cresce+no+governo+Lula.html ** Ameaça de greve geral reaviva velhas discussões. Valor Econômico, 09/07/2012. http://www.valor.com.br/impresso/ Apud http://servidorpblicofederal.blogspot.com.br/ *** Marta SALOMON e Tânia MONTEIRO Sem Lula no Planalto, CUT aumenta pressão sobre Dilma por salário maior. O Estado de S.Paulo, 09/07/2012. http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,sem-lula-no-planalto-cut-aumenta-pressao-sobre-dilma-por-salario-maior-,897828,0.htm

terça-feira, 15 de maio de 2012

REVOLUÇÃO, SUICÍDIO E CRISE: 1845 E 2012

O país símbolo da crise atual é a Grécia. A aceitação de um plano de autoridade, com cortes nos salários e nas aposentarias, teve também, em 2012, o seu símbolo: o suicídio de um aposentado que dizia que preferia morrer do que perder a dignidade e morar nas ruas. Como foi dito em outro texto, em 2011, por causa da crise econômica, já havia ocorrido um aumento de 40% no número de suicídios neste país. (Notícias UOL) O suicídio, neste contexto, aparece como resultado de uma época em que as pessoas não acreditam em movimentos sociais, nos partidos políticos ou em revoluções. O único aspecto que permanece é a ganância da elite. A indiferença quanto aos desempregados, o aumento visível da miséria, também não é algo novo. Em 1845, Friederick Engels, diante da crise que vivia a maioria da população no Reino Unido, observava: "Se, ainda em tempo, a burguesia inglesa não parar para a reflexão - e tudo indica que isso certamente não ocorrerá - uma revolução, como nunca se viu até agora, acontecerá." (The Condition of the Working Class, p. 320) No século XIX, a revolução comunista era vista como a solução para a crise. A ação individual, como o suicídio ou qualquer outro ato, era descartada: "Além disto, não ocorre a qualquer comunista desejar a vingança individual ou acreditar nela. (...) É muito tarde para uma solução pacífica. As classes estão divididas (...)" (The Condition of the Working Class, p. 320-321) Os comunistas, em 1845, acreditavam na "certeza" de um evento que ocorreria no futuro: a revolução que acabaria com a divisão de classes. "As premissas [para isso] estariam nos inegáveis fatos decorrentes do desenvolvimento histórico e da natureza humana." (The Condition of the Working Class, p. 321) A revolução imaginada em 1845 não aconteceu. Em 2012, o indivíduo, diante da crise social, não imagina uma revolução como resposta. O problema, em 2012, é que esse mesmo indivíduo não apresenta outra alternativa. Daí, para alguns, o suicídio aparece como a única saída.