quarta-feira, 6 de maio de 2009

A MINEIRIDADE E O MOVIMENTO DE 1964

Minas Gerais sempre foi tratada, por alguns autores, como a “vanguarda” do movimento de 1964. Neste contexto, o governador Magalhães Pinto aparecia como “o líder civil da Revolução”. Durante os governos militares, se por um lado, o presidente da República sempre era escolhido entre os generais, por outro, a vice-presidência, quando se abria espaço aos políticos, era dada normalmente para um mineiro (como foram os casos de José Maria Alkmin, Pedro Aleixo e Aureliano Chaves). Havia ainda a indicação de ministros e cargos da burocracia estatal, além da presidência do partido governista (como exemplos: Rondon Pacheco e Francelino Pereira). A influência dos mineiros na política brasileira esteve associada a uma tradição, ou melhor, a construção de um conceito: a mineiridade. Fernando Correia Dias a explicava através de “uma constelação de atributos consignados aos habitantes desse território, tanto a título individual como o coletivo.” Tratava-se de uma observação interessante, mas esse conceito era mais complexo. Afinal, discutir mineiridade era não apenas falar de uma forma de se fazer política no Brasil mas também associar esse conjunto de valores com a própria construção da identidade nacional. Neste sentido, os mineiros apareciam na elaboração do discurso da nação brasileira principalmente através do mito de Tiradentes. Ele era sempre resgatado quando Minas falava em nome do Brasil. Baseada neste símbolo nacional, Minas tentava ser a vanguarda (política) da nação. Alguns autores, contudo, procuraram destacar outras características de Minas Gerais. Maria Arminda N. Arruda, por exemplo, lembrou que a ênfase de Minas em relação à política poderia ser explicada, entre outros pontos, pelo declínio do Estado na área econômica. (“Mitologia da Mineiridade”, p. 229-230) Em outras palavras, se São Paulo era a vanguarda econômica, Minas poderia ser a política. Otávio Soares Dulci discutia outra questão. Para ele, a unificação das elites no Estado ocorreria sobretudo através da mineiridade. Ou seja, “a ideologia da ‘mineiridade’, usada politicamente, homogeneiza, uniformiza a personalidade dos mineiros de todas as partes do estado, ao falar de um ‘caráter mineiro’. E faz o mesmo no tocante à cultura e à sociabilidade. Na realidade, tem que fazê-lo para atingir o seu objetivo. Ela busca sua eficiência ao obscurecer as diferenças internas, projetando no plano nacional um conjunto homogêneo e, por isso, forte.” (“Identidade Regional e Ideologia”, p. 23) Na prática, entretanto, não havia como negar a ambigüidade deste discurso. Se a insubmissão e a liberdade eram consideradas características importantes dos mineiros, o mesmo seria válido para adjetivos como moderação e ordem. Portanto, a mineiridade não poderia ser definida como algo simples, linear. Ela deve ser considerada mais como um discurso de dominação e, enquanto tal, assume elementos contraditórios no seu interior.
SELMANE FELIPE DE OLIVEIRA
Prof. Doutor
Uberlândia – (MG)