quarta-feira, 6 de maio de 2009

GOVERNO FRANCELINO PEREIRA

Francelino Pereira foi governador de Minas Gerais no final da década de 70. Político situacionista, foi um dos principais articulistas do regime militar e presidente nacional da ARENA. Ele, como seus antecessores no governo estadual, também colocava como meta do seu governo o desenvolvimento, sem abandonar a retórica da união e do apoio de Minas ao governo federal, ou seja, em suas palavras: “o nosso apoio a Figueiredo não é pela metade; é total, completo, por inteiro e irreversível.” (Diário da Tarde, 16/10/1979, p. 3)
Entretanto, a temática que predominou, durante o seu governo, foi a questão da greve. Houve várias paralisações, passeatas e movimentos grevistas em Minas Gerais. Professores, metalúrgicos, trabalhadores da construção civil e motoristas de ônibus foram algumas categorias que fizeram greves. Apesar de contar com o apoio do governo federal, sobretudo a solidariedade do ministro do trabalho Murilo Macedo, Francelino Pereira teve sérias dificuldades em lidar com os movimentos dos trabalhadores, tendo que utilizar, inclusive a força policial para intimidá-los. (Cf. Diário do Comércio, 04/09/1982, p. 16)
No discurso do governador, quando ocorriam tumultos e violência nas manifestações populares, os responsáveis seriam os próprios trabalhadores e não a repressão policial. A polícia, na sua fala, aparecia como vítima dos tumultos criados pelos trabalhadores, ou seja, de acordo com o discurso do governo: “a polícia, para manter a ordem pública e defesa da propriedade, teve integrantes seus agredidos, em vários locais da cidade.” (Diário da Tarde, 31/07/1979, p. 3)
Em suma, as greves eram mostradas pela administração Francelino Pereira como movimentos que visavam a desordem e o caos urbano. Tratava-se, de acordo com este ponto de vista, de algo percebido como um “perigo público iminente, colocando em jogo a própria tranqüilidade da população.” (Diário da Tarde, 04/08/1979, p. 3) O partido governista, claro, apoiava a retórica do governador. Para o deputado arenista Jesus Trindade Barreto: “a situação e a seqüência dos movimentos, até com atos de violência, mostram que pode haver um objetivo para desestabilizar o governo, atrás do biombo das greves.” (Diário da Tarde, 04/08/1979, p. 3)
Por outro lado, o partido oposicionista se mostrava solidário às manifestações populares. O deputado emedebista Ademir Lucas sintetizou a posição do partido, afirmando que: “Minas Gerais, uma vez mais, [dava] o seu gesto de alerta e de independência contra l5 anos de arrocho salarial.” (Diário da Tarde, 09/08/1979, p. 3)
Apesar dos movimentos grevistas ocorrerem em todo o país, sobretudo influenciados pela força dos trabalhadores da região do ABC, em Minas Gerais acabaram criando uma crise política mais séria, pois o governador era acusado de incompetência administrativa, sendo, inclusive, cogitada a sua renúncia (Diário de Minas, 28/03/1980, p. 3) ou a possibilidade de intervenção no Estado. Em outras palavras, não se percebia na época, em Minas Gerais, que as greves não eram simplesmente manifestações contra o governo estadual. Tratava-se de um movimento mais amplo, de luta contra a ditadura militar e a favor da redemocratização do país.

SELMANE FELIPE DE OLIVEIRA

Doutor em História pela Pontícia Universidade de São Paulo - PUC SP