quarta-feira, 6 de maio de 2009

HOSPITALIDADE, IMIGRANTES E TURISTAS

Em qualquer lugar do mundo, existe uma diferença clara no tratamento do “forasteiro”: para o migrante, a polícia, a lei; para o turista, o tratamento vip, o tapete vermelho. Um exemplo é a cidade de Londres, onde as pessoas – policiais, motoristas de táxi, etc – são extremamente cordiais com os turistas enquanto os migrantes são tratados como criminosos, com polícias especais, leis rigorosas e as deportações.
Talvez este seja o problema de Uberlândia MG. O ideal seria tratar todos da mesma maneira: ser cordial e civilizado. Mas, tratar o turista como sempre lidou com o migrante é um erro grave para um município que pretende ser destaque no turismo de negócios e eventos.
Não existe turismo sem hospitalidade. Esta é a questão. Uma cidade fechada e elitista não terá sucesso como destino turístico. Não adianta negar o óbvio. Quem nunca foi mal recebido numa loja do shopping, só porque o vendedor achou que você não estava vestido adequadamente ou imaginou que você não tivesse dinheiro? Quem nunca passou por uma situação em que companheiros de trabalho ou colegas de sala de aula deixam de te cumprimentar só porque você estaria “mal vestido” ou em um ponto de ônibus? Quem nunca ouviu a pergunta: qual é a sua família mesmo?
Alguns poderiam argumentar que estas são características de cidade pequena. No entanto, isso não resolve o problema. Aliás, este tipo de afirmação faz parte do problema. Ou seja, algumas pessoas apresentam Uberlândia como uma metrópole, como uma cidade grande, coisa que ela não é. Ela é uma cidade de médio porte. O problema, mais uma vez, é defender uma imagem que não corresponde à realidade. Por quê? Por que a cidade tem que parecer uma coisa que, de fato, não é? Por que as pessoas te cumprimentam a partir da roupa que você está vestindo? Lembram quando Uberlândia foi capa da revista Veja em 18 de novembro de 1987 (ver p. 66-67)? Na matéria dizia: “em Uberlândia, é quase inacreditável, não existem mendigos.” Entretanto, mesmo nos anos 1980, a realidade demonstrava o contrário: havia sim mendigos, assim como favelas e outros problemas de qualquer cidade brasileira.
Tentar ser o que não é um problema que deve ser discutido e enfrentado por aqueles que se consideram lideranças no município. Trata-se de problematizar o que se convenceu acreditar que seria a “imagem de Uberlândia”. É pertinente, neste debate, incluir a temática da hospitalidade. Talvez a mudança de comportamento diante do turista – mesmo objetivando o retorno financeiro de um destino turístico – leve também a uma transformação na vida cotidiana dos uberlandenses, quando a valorização de aspectos como solidariedade, respeito, emotividade e ética puder efetivamente contribuir para a construção de uma verdadeira cidadania no município.

SELMANE FELIPE DE OLIVEIRA

Doutor em História pela Pontícia Universidade de São Paulo - PUC SP