quarta-feira, 6 de maio de 2009

A FORMAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ATUALIDADE BRASILEIRA

OLIVEIRA, S. F. . Formação do Assistente Social. Correio, Uberlândia, p. 1 - 2, 22 ago. 2004.

O assistente social, enquanto um agente transformador da sociedade, necessita de uma base teórica sólida em teoria política. Como intervir nos conflitos sociais, sem conhecer as concepções que estão por trás das ações coletivas e individuais? Como compreender a política brasileira, a ausência de recursos em áreas sociais, como educação e saúde, sem entender a influência de Maquiavel na política moderna?
Atualmente existe uma hegemonia do chamado neoliberalismo em quase todos os países do mundo. Muitas vezes esse conceito se confunde com globalização e até mesmo com revolução tecnológica. Alguns autores contrários ao neoliberalismo preferem utilizar outros termos, como é o caso de globalismo. A verdade é que a revolução tecnológica é um fato, não que ela não seja utilizada ideologicamente, mas sim que ela pode assumir vários significados, inclusive, atendendo aos interesses das classes populares. É o caso da Internet, onde aparece claramente a idéia de compartilhar coisas, idéias, informações, cultura... sem pagar! As grandes corporações ainda discutem formas de cobrar por seus produtos (como a música, por exemplo). Enquanto isso todo mundo compartilha o seu acervo livremente, trocando além de música, idéias, carinho e solidariedade. Não é por acaso que as empresas de softwares de MP 3 costumam afirmar que criam comunidades onde os usuários podem trocar as suas canções.
A proposta de comunidade está associada à luta pela cidadania. A diferença é que hoje ela não ocorre só no espaço real... ela existe também na esfera dos símbolos, dos imaginários, em suma, na esfera do ciberespaço. Na medida em que o assistente social crítico sempre buscou amenizar as diferenças sociais, lutando por um mundo mais justo e solidário, está claro que este profissional tem um papel fundamental na sociedade atual. Ele já acreditava em compartilhar antes mesmo das comunidades virtuais de MP 3 e criticava os excessos das elites antes do processo de globalização e concentração de capital em escala mundial.
Certamente não cabe ser do contra simplesmente. Não é possível usar os mesmos conceitos e estratégias de lutas do século XIX. Isso não significa abandonar as idéias de partidos e sindicatos, mas sim de dar um novo sentido a esta luta, levando em consideração as relações democráticas em todos os níveis. Não dá para fingir que não houve o movimento feminista, nem que a luta seria simplesmente entre dois setores (ou duas classes). Trata-se de pensar as relações políticas percebendo o ponto de vista da própria condição humana, em sua complexidade, e se for considerado especificamente o indivíduo, levar em consideração as múltiplas relações em que ele se vê inserido.
Nesta perspectiva, o assistente social, como todo profissional, deve pensar a sua própria condição como uma totalidade. O aspecto profissional não está dissociado do prazer pessoal. Como diz Domenico de Masi, numa sociedade pós-industrial, não faz mais sentido separar trabalho, estudo e prazer. Portanto, cada profissional só será capaz de contribuir efetivamente para a melhoria da comunidade, na medida em que ele perceba que ele faz parte dela, ou seja, a sua felicidade está ligada, depende e influencia o comportamento do outro. Não existe uma linha divisória entre o pessoal e o social. É tudo a mesma coisa. Estes níveis fazem partem da mesma totalidade, que no indivíduo (e fora dele) se coloca de maneira complexa, contraditória, múltipla. Não existe o caminho ou a solução, na verdade, seria mais correto levar em consideração a perspectiva de que os indivíduos fazem a sua própria história e, desta maneira, não se pode determinar o que será o futuro. Aliás, o futuro é só uma idéia, o que importa de fato é o fazer-se no cotidiano, é o viver agora, mas não de maneira individualista ou inconseqüente, mas, ao contrário, trata-se de perceber que o bem da comunidade está associado diretamente a sua própria felicidade pessoal.


SELMANE FELIPE DE OLIVEIRA
Prof. Doutor
Uberlândia – (MG)