sexta-feira, 11 de março de 2011

UMA SIMPLES, SAUDÁVEL E NECESSÁRIA AUTO-CRÍTICA...

Ironicamente, no meu sabático, gosto de refletir por que as pessoas trabalham tanto, correm de um lado para o outro e nunca têm tempo para elas. Uma lenda associada ao trabalho, é que o indivíduo precisa sobreviver. Atualmente, isso não é verdade. As necessidades básicas - como alimentação, moradia e vestuário - não são tão caras. A pessoa trabalha muito é para ter o que não precisa: trocar de carro todo ano, comprar novos modelos de aparelhos eletrônicos (sobretudo as TVs) ou passar os feriados em lugares da moda, onde não é raro encontrar o vizinho de condomínio.

Existe uma hipótese interessante que pode explicar este processo: o indivíduo usa o excesso de trabalho e inventa "a falta de tempo" para fugir da auto-crítica. Afinal, as empresas, após a revolução tecnológica, proporcionada principalmente pelos computadores e pela internet, não precisam de tantos trabalhadores. Mais importante, elas não querem os trabalhadores. É comum multinacionais demitirem milhares de operários de uma vez. O que acontece com essas pessoas? A maioria procura outro emprego. Mas as outras grandes empresas demitem trabalhadores em massa e os que ficam sofrem com excesso de trabalho e redução de salário, e acreditam que são os felizardos do processo ! Hello ?

No capitalismo, "a figura do homem trabalhador representou o ideal desta sociedade. Resta-nos perguntar: o que irá acontecer quando (...) à sociedade do trabalho, faltar o trabalho?" (Dahrendorf apud Masi) Corinne Maier é clara (p. 43): "todo mundo trabalha por dinheiro e pela montanha de coisas que se pode comprar com ele." Essas coisas não têm a ver com a sobrevivência do indivíduo. Elas são inventadas e produzidas. Posteriormente, com a ajuda do marketing, as pessoas são convencidas de que não poderiam viver sem elas. Compram carros e celulares. São produzidos novos modelos. Elas "precisam" dos novos modelos e assim por diante.

Existem ainda aqueles que adoram o próprio dinheiro:

"O amor ao dinheiro como propriedade, diferente do amor pelo dinheiro como meio de aproveitar dos prazeres da vida, será reconhecido por aquilo que é: uma paixão doentia, um pouco repugnante." (Masi, p. 100)

Domenico de Masi está correto. Como alguém pode ser feliz com a sua conta bancária - e não com o que pode fazer com aquele dinheiro? Avareza? Acumular capital para o futuro? Mas, como já disse em outros textos, o futuro do indivíduo não é a morte? Qual seria a vantagem de ter muito dinheiro neste momento (dinheiro que foi poupado porque a pessoa deixou de viver os prazeres da vida, como diria Masi, e trocou a felicidade do momento pela economia de capital para o futuro)? A "posse" do dinheiro gera uma satisfação parecida com a "posse" de um carro, uma fazenda ou um iate. É a ideologia da propriedade. Possuir uma conta bancária milionária e bens materiais como aviões e mansões, que foram conquistados ao longo da vida, teria qual utilidade no momento final, na hora de avaliar o que o indivíduo fez da sua história? Tanto esforço, tantas economias, tantos conflitos... Tanta riqueza material que, na hora da morte, deixa de ser da pessoa. Pior, nesse momento, tudo aquilo não tem utilidade alguma para o indivíduo.

O que acontece? Por que insistir em participar de uma festa que não foi convidado? Querer, a todo custo, entrar numa empresa que não precisa de você e se conseguir, ser humilhado em funções inadequadas a sua capacidade e ainda ter que aceitar reduções de salário... qual seria o sentido desta obsessão? Medo de si. Fugir. Correr. Vale qualquer coisa para não ficar parado e "pensar na vida". O que importa seria evitar uma simples, saudável e necessária auto-crítica.