sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

BENS MATERIAIS

Quem nunca viajou para o exterior, não entrou, por exemplo, no Coliseu de Roma, não entende por que uma pessoa gasta tanto com uma viagem ao invés de trocar de carro ou obter outro objeto da moda. A mesma lógica persegue aquele que não fez um curso superior. Costuma dizer: "de que adianta fazer uma faculdade, se o indivíduo ganha tão pouco depois?" Normalmente, este tipo de pessoa trabalha em excesso para adquirir os seus bens materiais. Com eles, se julga superior àquele que estudou, viajou e adquiriu cultura. De fato, não entende o conceito de cultura. Acha que seria algo inútil.

"Educação, para quê? Eu ganho mais do que esses médicos por aí..." Alguém já ouviu isso ou algo parecido? "A educação quer dizer enriquecer as coisas de significados." (Dewey, apud, Masi) Em outras palavras, as coisas não são riquezas. Elas são meios. A utilidade de uma coisa acaba no momento em que se adquire algo melhor. Os objetos são descartáveis. Assim, qual seria o sentido de acumular bens materiais? A pessoa trabalha em excesso para possuir mansões, carros, iates, aviões e... daí? A noção de posse é ilusória. O indivíduo não é dono dos objetos e nem do seu próprio corpo. Como dizem, "após a morte, ele não leva coisa alguma."

Então, para quê desperdiçar o tempo da vida em atividades inúteis para comprar coisas que a pessoa não precisa e que - mesmo nesse ponto de vista - não podem ser efetivamente dela? Ideologia. Ela acredita no que vê. Ela quer ser como a maioria. Ela não quer problematizar a sua condição humana e aproveita o discurso hegemônico da sociedade para fugir dela mesma. Ela teme tanto a morte que esquece de viver o presente. Não olha para o passado, pois tem medo de lembrar o que aconteceu. No máximo, ela olha o passado como enxerga o presente: de forma ilusória, ou seja, o que era fracasso é visto como vitória, o que era dor é amenizado ou omitido. Ela diz que vive o cotidiano, mas está sempre ocupada, não tem tempo para ela mesma. Ela sempre corre... para onde? Ela foge... do quê? Refletir? Não existe tempo para isso. Ela acredita que o importante é só aquilo ela vê. Esquece que um dia, aquilo que a representa com um "ser material" - o seu corpo - necessariamente desaparecerá.