segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

AS INVASÕES BÁRBARAS

No filme "Les Invansions Barbares", um professor universitário é afastado por causa do câncer. No hospital, ele reclama que o reitor no foi despedir dele. Na sua última aula, era clara a indiferença dos alunos.

Para piorar, numa discussão com o filho, o velho professor tem que ouvir a seguinte crítica: "... o que é melhor que mofar em uma universidade medíocre em uma província atrasada." Para quem trabalhou tanto tempo em duas faculdades do interior, como foi o meu caso, trata-se de uma crítica e tanto.

Em suas reflexões, ele afirma que sentirá saudades sobretudo dos livros e das mulheres. Arrependimento? Ele diz que gostaria de ter escrito livros. Esse é um problema do professor de faculdade pequena: ele tem que dar muitas aulas e atividades como pesquisa e extensão não são valorizadas. Em resumo, ele torna-se uma "máquina repetidora de conhecimento", que vende o seu tempo em troca do salário. Normalmente, ele usa isso como desculpa para não produzir. É uma desculpa interessante, se pensarmos as condições de trabalho que ele tem. No entanto, não deixa de ser uma desculpa.

Obviamente, me identifiquei com a história do professor do filme. Existem pontos comuns e divergentes. Apesar das faculdades não valorizarem, eu fiz duas teses, publiquei seis livros e escrevi artigos para revistas científicas. Produzi algo. Existem falhas nos trabalhos, reconheço, mas isso acontece com todos. O que importa é que arrisquei e publiquei. Arrependimento? Conscientemente, nenhum... Hoje em dia, costumo dizer que trabalhei tempo demais (a tal ideologia do trabalho...). Não sei, contudo, se isso seria um arrependimento.

O comum é ouvir perguntas sobre quando voltarei a dar aulas. As pessoas não acreditam que você possa viver sem estar associado a uma empresa ou instituição. Por quê não? Não sei se voltarei a dar aulas. Quando surge esse assunto, digo que sou formado para ser professor e pesquisador, ou seja, dou aulas, pesquiso e escrevo. Das três coisas, atualmente, só não trabalho em sala de aula.

Nas reuniões que participava como docente, era comum ouvir gente dizendo que gostaria de ter tempo para ler e escrever, sem se preocupar com o cumprimento de horários e com o cartão de ponto. Hoje eu tenho esse tempo. E leio e escrevo.