segunda-feira, 30 de maio de 2011

TAOÍSMO E BUDISMO

Atualmente, a concepção religiosa do mundo ocidental está baseada nas visões do judaísmo e, sobretudo, do cristianismo. Historicamente, foram produzidas outras religiões nos países orientais, como a China e a Índia. Dois exemplos seriam o Taoísmo e o Budismo.

São duas concepções diferentes e a mesma busca pelo bem-estar do homem. O "Taoísmo defende o 'deixa-estar' ['let-it-be'] (...) e um estilo de vida caracterizado (...) pelo cultivo da tranqüilidade." O Budismo "parte da idéias de 'samsara' (o ciclo do renascimento) e de 'karma' (conseqüências dos atos), e tenta encontrar um caminho para escapar do ciclo do renascimento. A fonte dos problemas (...) seria o desejo por riquezas, poder, prazer e assim por diante. Para eliminar esses desejos, nós deveríamos seguir o 'oitavo caminho' (eightfoldpath) e aceitar que a existência não é satisfatória nem permanente, (...) que tudo é transitório e que tudo depende de tudo no universo." [Charles Guignon (ed.) The Good Life, p. 1 and 73]

De um modo geral, filosofia e religião não são claramente separadas em muitas teorias orientais. A busca de respostas para a existência seria o eixo das duas concepções.

Pressupostos teóricos do oriente aparecem em filosofias e religiões ocidentais. O incômodo é o mesmo: a existência. Não existe uma resposta definitiva. Tanto no oriente como no ocidente, as teorias servem como parâmetros para melhorar o cotidiano das pessoas. Uma busca por uma resposta "absoluta", diante da angústia da condição humana, parece ser razoável. Mas, nesse caso, trata-se de fé e de uma escolha pessoal de cada indivíduo.

sábado, 28 de maio de 2011

O MEDO DO PASSADO

Atos comuns podem revelar algo que o indivíduo não tem consciência, por causa de resistências internas criadas por ele mesmo (ver Freud). Pode ser um trauma de infância ou algum problema grave que ele gostaria de "apagar" da sua memória.

No entanto, isso não acontece. Na vida adulta, o fato "omitido" pode retornar na mente da pessoa. Assim, surgem problemas que não são identificados de imediato, na medida em que existe uma recusa do indivíduo em admitir o trauma. Muitos conhecem as conseqüências deste processo, sobretudo no que se refere à insônia ou à falta de apetite.

Em suma, esquecer não é solução. Adiar não significa resolver. Talvez seja mais saudável admitir que derrotas e rejeições fazem parte da vida de qualquer pessoa.

O SER HUMANO

Pensar a condição humana é fundamental?

"Aprés quelques décennies passés sous le signe de 'la mort de l'homme', le travail qui s'ouvre aujourd'hui à la philosophie semble être de redonner une place plus essentielle à l'être humain." (Jacques-Emile Miriel, Magazine Littéraire, n° 394 p. 89):

De um ponto de vista geral, a humanidade não tem importância. Freud já afirmava que a sua extinção não representaria uma grande perda.

Por outro lado, Miriel chama a atenção sobre a necessidade de um retorno ao debate sobre o ser humano.

Seria como admitir a insignificância do homem, mas, ao mesmo tempo, reconhecer que ele não teria outra alternativa a não ser pensar sobre a sua condição. Parece algo dito por Sartre.

ÉTICA, PSIQUIATRIA E TELEVISÃO

Um psiquiatra conversa com o paciente e em seguida recomenda medicamentos para aliviar a dor. O psiquiatra lida com a emoção, algo que não aparece em exames. Ele indica o tratamento a partir da fala do paciente. É um jogo de acerto e erro. Se tal remédio não resolve, deverá ser adotado outro.

É interessante perceber que algo "não material" como a emoção, gera conseqüências reais no corpo humano. Uma vez, vi uma matéria na televisão na qual aparecia uma expressão: "síndrome do coração partido". Era dito que raiva, tristeza e estresse causam problemas no coração e pessoas ansiosas e com depressão teriam maior chance de infarto (ele seria resultado de pico de fúria de estresse). As respostas para alterar tais situações seriam conversas com amigos, rir e a ênfase em bons sentimentos.

A matéria na televisão, aparentemente, trata de coisas óbvias. No entanto, o método do psiquiatra para indicar os remédios não é baseado em exame de laboratório ou outra evidência científica. Mais do que a formação do médico, a sua postura ética é fundamental para que o resultado seja positivo. Nem sempre isso acontece. Existem as pressões dos laboratórios para vender os seus caros anti-depressivos. Ocorre ainda "o amor pelo dinheiro", que leva o psiquiatra a colocar os objetivos profissionais num segundo plano. Não é por acaso que vemos na televisão, algumas vezes, a prisão de médicos envolvidos em casos de corrupção.

A televisão funciona como um aparelho ideológico (Althusser). O papel da psiquiatria na história da loucura é questionável (Foucault). A atuação do psiquiatra, na atualidade, deve ser problematizada. O fato de ter feito uma faculdade e falar em nome da ciência, não garante que o médico esteja do lado da verdade.
Um psiquiatra conversa com o paciente e em seguida recomenda medicamentos para aliviar a dor. O psiquiatra lida com a emoção, algo que não aparece em exames. Ele indica o tratamento a partir da fala do paciente. É um jogo de acerto e erro. Se tal remédio não resolve, deverá ser adotado outro.

É interessante perceber que algo "não material" como a emoção, gera conseqüências reais no corpo humano. Uma vez, vi uma matéria na televisão na qual aparecia uma expressão: "síndrome do coração partido". Era dito que raiva, tristeza e estresse causam problemas no coração e pessoas ansiosas e com depressão teriam maior chance de infarto (ele seria resultado de pico de fúria de estresse). As respostas para alterar tais situações seriam conversas com amigos, rir e a ênfase em bons sentimentos.

A matéria na televisão, aparentemente, trata de coisas óbvias. No entanto, o método do psiquiatra para indicar os remédios não é baseado em exame de laboratório ou outra evidência científica. Mais do que a formação do médico, a sua postura ética é fundamental para que o resultado seja positivo. Nem sempre isso acontece. Existem as pressões dos laboratórios para vender os seus caros anti-depressivos. Ocorre ainda "o amor pelo dinheiro", que leva o psiquiatra a colocar os objetivos profissionais num segundo plano. Não é por acaso que vemos na televisão, algumas vezes, a prisão de médicos envolvidos em casos de corrupção.

A televisão funciona como um aparelho ideológico (Althusser). O papel da psiquiatria na história da loucura é questionável (Foucault). A atuação do psiquiatra, na atualidade, deve ser problematizada. O fato de ter feito uma faculdade e falar em nome da ciência, não garante que o médico esteja do lado da verdade.

FILOSOFIA DE BAR: EXISTÊNCIA

O que caracteriza um indivíduo é a sua incapacidade de lidar com a existência. Ele não nasce, ele é jogado na vida (John D. Biroc) sem saber o por quê. Sabe que morre e só. Deixa de existir? Existia antes?

Ele nada sabe sobre a vida. Mas, nas suas relações sociais, incomoda e marca os outros, de maneira consciente ou não. Assim, vive "nos outros".

Perde, portanto, o controle de sua vida, pois ela passa a "estar" na memória dos outros. Nesta perspectiva, nem o próprio indivíduo com o suicídio poderia destruir a si mesmo.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

GERAÇÃO SANDY

A geração pós-guerra foi chamada de "baby boomers". Eu sou da chamada geração X. Depois vieram as gerações Y e Z. E daí?

Cada geração apresenta características próprias. Na década de 1990, foi apresentada uma série "Anos Rebeldes" (década de 1960), que, por tratar da rebeldia contra o regime militar, influenciou o movimento dos jovens conhecido como "caras pintadas", cuja meta era o "impeachment" do presidente Collor.

Atualmente, a referência é o filme Tropa de Elite, o que demonstra o conservadorismo e individualismo dos jovens. Muitos não sabem o que seria inflação. Nasceram depois disto. Não conseguem perceber como a vida seria possível sem internet e sem celular.

Esta geração cresceu com a dupla Sandy & Júnior como referência. Cresceu ouvindo sertanejo, pagode e axé, o que explica a naturalidade de ver atrações de estilos diferentes numa mesma noite em festivais de música.

Causa certa estranheza ver ídolos como João Gilberto (anos 1950), Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque (anos 1960 e 1970), Cazuza e Renato Russo (anos 1980) comparados com as atrações atuais como Ivete Sangalo, Vitor e Léo, Alexandre Pires e Chiclete com Banana.

Dizer que houve uma vulgarização nos últimos anos, pode parecer saudosista. Talvez seja mesmo. Mas ouvir uma música de Chico Buarque ou de Renato Russo e, em seguida, ouvir a letra de algo na voz de Ivete Sangalo responde qualquer dúvida sobre que o teria alguma qualidade ou não.

Vale ainda destacar que tal superficialidade acaba associada a momentos constrangedores, que até então eram enfatizados pelos políticos brasileiros - um deputado mineiro acusado de plágio, para se defender, disse que tal prática seria comum na Assembléia Legislativa ou o governista Palozzi, afirmando, em sua defesa, que era comum um ministro sair do governo e prestar consultoria para empresas privadas.

A idéia seria: se todos fazem, logo o meu erro não poderia ser condenado e nem percebido como erro (?) já que é uma prática aceita pela sociedade (?). Os políticos esquecem que erro é erro e ponto final. Lembrar da gravidade do erro do outro não transforma o "seu erro" em acerto.

Sandy fez uma propaganda de cerveja sem gostar do produto. Basicamente, o que não servia para ela, Sandy recomendava para os outros ! Em sua defesa, disse que outros artistas teriam a mesma prática, seguindo a equivocada linha de raciocínio de muitos políticos brasileiros.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

1992 & 2008

Em fevereiro de 1992, após terminar o mestrado, estava sem trabalho e decidi usar o meu tempo livre para pesquisar no Arquivo Público Municipal. Coletei dados sobre um prefeito da década de 1950, mas isso não resultou em um artigo. Em agosto de 2008, sem trabalho novamente, resolvi fazer um sabático. Primeiro, passei uma ano saindo toda noite. Houve novas amizades, namoro, bares, boites, muita diversão e, claro, excessos. Num segundo momento, optei por ficar isolado e voltei a escrever. Entretanto, não retornei aos arquivos e nem a pesquisa científica. Estava meio influenciado por aquela fala de Henry Miller:

"Mas eu não vou parar de escrever, pelo menos vou querer me divertir com isso. Estou cansado de fazer coisas longas, sombrias e sérias."

O livro "Mitologias" de Roland Barthes foi uma referência na época também. Gostei da maneira como ele analisava os temas cotidianos e resolvi fazer o mesmo, escrevendo textos opinativos. Publiquei os textos no meu website e no meu blog. Desde dezembro de 2010, decidi ficar mais isolado e desliguei o celular, deixei de abrir a caixa de e-mails e de entrar nas chamadas redes sociais - "orkut", "facebook" e "twitter". Lia, escrevia algo e publicava na internet. Não sabia (e ainda não sei) quem lia e o que achava do que eu escrevia.

Permaneço com este método até hoje. Escrever é uma necessidade. Escrevo, antes de mais nada, para mim. Com a internet, existe a possibilidade de compartilhar com os outros, no blog e no website, o que eu penso. Não é um processo de comunicação completo pois não sei o que os leitores pensam. Mas, no meu caso, é um começo.

PESQUISAS CIENTÍFICAS E TEXTOS OPINATIVOS*

* Este texto foi publicado anteriormente em: http://profelipe.weebly.com/

Mais de 1.000 pessoas possuem os meus livros impressos da Rápida Editora.

Eu não sei a quantidade de livros vendidos pela Cabral.

Existem inúmeras "xeroxes" dos livros - fato que nunca me incomodou.

Tenho duas teses aprovadas - Mestrado na UFF/RJ em 1992 e Doutorado na PUC/SP em 1999.

Publiquei artigos em revistas científicas.

Nos meus blogs e em alguns livros virtuais (após 2010), os leitores encontrarão textos opinativos.

CARREIRA SOLO

Nas tais fases, ultimamente sigo a teoria dos 3 "s": Sozinho / Sem compromisso / Sem encher o saco.

O fato de preferir ficar sozinho lembra uma declaração do John Lennon (Playboy - Entrevistas, p. 303):

"Quando você tem 16 anos é certo ter companhias e ídolos masculinos. É a coisa da tribo, tudo bem. Mas, quando você ainda faz isso aos 40, significa que, na cabeça, você ainda não passou dos 16."

Provavelmente, depois dos 30 ou 40 anos, a opção seja a "carreira solo" mesmo. Por quê?

Primeiro, seria meio patético sair todo final de semana com a turma da quinta série, afinal, a maioria casou, tem filhos e vários compromissos. Sempre achei desagradável aquele tipo de festa para reunir a galera da "década de 1980". Todos envelheceram, engordaram e, pior, as mais cobiçadas da época agora parecem aquela sua tia solteirona.

Em segundo lugar, parece ser um processo natural, como a tese defendida na série "Sex and The City": "quando ficamos mais velhos, os grupos ficam cada vez menores." Tenho 50 anos e os amigos da minha idade estão na fase de serem abandonados pelas esposas e, em alguns casos, de voltarem, após décadas, a morar com os pais.

Uma terceira hipótese seria a crise da meia idade. Como diz um amigo, após os 50 anos, entramos numa contagem regressiva... O medo da morte agrava as crises - como divórcio, falência, prisões ou desemprego - e reforça a busca por alternativas que, aos olhos da maioria, parecem bizarras: comprar um carro vermelho, namorar garotas muito mais novas, usar pulseiras e colares de ouro, fazer infinitas plásticas em vários lugares do corpo, ficar careca mas deixar o cabelo comprido na nuca, entre outras coisas.

Ser criança é ótimo, tudo é novidade e a responsabilidade é zero. Ser adolescente é problemático, como toda fase "intermediária". Ser adulto, assumindo a responsabilidade dos seus atos (e dos outros) é um saco. Aqui, para alguns, a única vantagem seria humilhar crianças e adolescentes. Ser velho é ser sozinho ou aceitar aquilo que antes não seria razoável. Contagem regressiva é uma maneira educada de admitir a decadência. E o pior, para muitos, ainda estaria por vir: a morte, claro. Um resumo interessante pode ser aquela frase citada no filme "Wall Street - Money never sleeps":

"Getting old is not for sissy, kid."

1848 & 2011

O que Karl Marx e Friedrich Engels afirmaram em 1848, é ainda mais verdadeiro no mundo atual:

"Die Bourgeoisie hat durch ihre Exploitation des Weltmarkts die Produktion und Konsumtion aller Länder kosmopolitisch gestaltet." (Manifest der Kommunistischen Partei, Voltmedia, p. 18)

Sim, a burguesia transformou o mundo, ditando o que produzir e o que consumir. A escolha de uma classe foi imposta como se fosse a maneira "natural" de existir de todos os seres humanos, em qualquer parte do planeta.

A última revolução tecnológica (computadores pessoais e internet) apenas consolidou o que antes poderia ser visto como um projeto. A contradição básica do capitalismo, com a acumulação de riqueza nas mãos de uma minoria, não mudou.

Na época de Marx e Engels, a resposta para este problema era uma revolução do proletariado. Contudo, após a crise dos países do leste europeu, esta solução passou a ser questionada, o que, fortaleceu, ao mesmo tempo, a ideologia do capitalismo.

A constatação de 1848 vale para 2011. A questão atual é, como diria Lênin, o que fazer? O capitalismo não atende os interesses da maioria. Muitas experiências de revoluções comunistas fracassaram. Existiria outra alternativa? A certeza de que o capitalismo é necessariamente um modo de produção que precisa excluir as pessoas não garante uma resposta quanto ao modelo econômico que deveria ser colocado no seu lugar.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

FACULDADE E DESEMPREGO

Numa semana em que o diretor do FMI foi preso na primeira classe de um avião, tentando fugir da violência sexual cometida contra uma camareira no hotel em que estava hospedado, cuja diária era de 3.000 dólares, estudantes em Madri fizeram manifestação em praça pública contra o desemprego. Na Europa (e em outras partes do mundo), a situação não é simples. Na Inglaterra, o custo triplicou no que diz respeito ao ensino superior. O dilema é óbvio: pagar caro para fazer uma faculdade e depois ganhar um salário baixo ou ficar desempregado. Lembra a fala de Don Tapscott (citada em outro artigo):

"Os jovens de hoje cresceram ouvindo que se estudassem com dedicação e não se metessem em problemas teriam uma vida confortável na idade adulta. Mentimos para eles. Chegaram ao mercado de trabalho e não há emprego." (Veja (13/04/2011, p. 23)

No Brasil, a situação ainda é mais complicada, afinal, após a estabilidade da economia em 1994 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1996, houve a expansão do ensino superior nas universidades particulares, que hoje respondem por 70% do mercado do país. O problema é a qualidade. Numa nota até cinco, 40 % dessas faculdades ficaram com 1 ou 2. O resultado prático é a formação de um profissional que não está adequado para o mercado.

Essas universidades demitiram em massa mestres e doutores. Não se preocupam com pesquisa e extensão. A conseqüência está aí. O desenvolvimento econômico exige profissionais que as universidades não podem oferecer. E o governo? Oficialmente, diz que fiscaliza. Na prática, as regras do Ministério da Educação não são respeitadas pelos donos de faculdades.

Existe gente que ainda defende uma política mais flexível quanto ao ensino superior, o que só pioraria a situação. Em especial no governo Lula, o elogio da ignorância e o desprezo pelos pesquisadores complicaram o que já era ruim. Neste contexto, os empresários reclamam que não encontram profissionais qualificados, ou seja, existem profissionais, mas que não são qualificados o suficiente para atender o mercado.

A administração Lula acreditava que seria possível crescer economicamente sem levar em consideração a qualidade do ensino superior. O resultado está aí. Além de depender da tecnologia estrangeira, agora querem importar trabalhadores qualificados de outros países. Ainda assim, o governo anterior ainda dizia que o Brasil seria uma potência mundial. O discurso foi um e a realidade do país, na atualidade, tornou-se outra.

A ATUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR

No especial sobre o ensino superior no Brasil do Jornal da Globo, ontem (24/05/2011) foram tratados os problemas das universidades. A infra-estrutura foi apresentada como o principal problema das escolas federais. O reitor da UFMA simplesmente não permitiu a entrada dos repórteres num laboratório da universidade. Foram mostradas cenas de abandono e falta de manutenção dos laboratórios. A maior parte da verba (90%) é gasta com pessoal. Ainda assim, foi dito que, por ter estabilidade no emprego, existe professor que não aparece para dar aula. Os docentes estariam desestimulados.

Nas faculdades particulares, destacou-se que somente a metade dos alunos conclui o curso superior. O problema da qualidade havia sido abordado na noite anterior (40% dessas escolas possuem as piores notas da avaliação).

Como se chegou neste quadro? Os oito anos de governo Lula foram fundamentais neste processo.

Primeiro, se falta dinheiro para manter e melhorar a infra-estrutura da universidades federais, ao invés de resolver o problema, a sua administração criou novas universidades e ampliou os campi das existentes.

Segundo, no governo anterior, os donos de faculdades, por causa do Provão, temiam que as suas unidades fossem fechadas devido a péssima qualidade do ensino. O presidente Lula acabou com o Provão, adotou outro sistema de avaliação e, pior, não houve fiscalização adequada.

Isso e a última Lei de Diretrizes e Bases da Educação permitiram a criação dos centro universitários - algo que não tinha a obrigação de pesquisa e extensão, e ainda tinha a autonomia que faltava às faculdades isoladas - e dos cursos a distância. O resultado foi a expansão do setor privado no ensino superior. Em 2011, 70% dos universitários estão nas escolas particulares.

A mudança do sistema de avaliação e a falta de fiscalização fizeram com que os empresários optassem pelo abandono da pesquisa e pela demissão de mestres e doutores, comprometendo a qualidade do ensino. Eles procuraram definir a concorrência pelo preço da mensalidade. A conseqüência? Muitos alunos entram nas faculdades, pagam mensalidade por uns dois anos e abandonam os cursos. Os que ficam e formam, devido a baixa qualidade do ensino, não são considerados aptos para o mercado.

Esta é a realidade atual do ensino superior no país.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

COLUMBINE & LÍBIA

O homem nasce "programado" para morrer. É fato. A destruição e a auto-destruição, assim como a valorização da vida, estão em sua genética. É uma contradição básica que existe em toda pessoa. Leia Freud.

Tradicionalmente, no mundo ocidental, para conter o instinto de violência, foram criadas algumas instituições, como a família, a escola e a religião. Para civilizar o indivíduo, a família era fundamental na infância. Em seguida, a escola assumiria o papel da educação. A igreja, no capitalismo, perdeu o poder que tinha antes.

Estas instituições baseavam o seu poder na figura da autoridade que detinha o saber : o pai, o professor e o padre. A criança e o jovem recebiam o conhecimento dos seus superiores.

A popularização do computador pessoal e da internet, depois do lançamento do Windows 95, mudou esta realidade. Não existe mais uma relação vertical do saber. Todos tornaram-se produtores e consumidores do conhecimento. Não existe mais uma relação de superior e inferior. Não existe mais "a" autoridade.

Pais, professores, padres e governos têm medo da internet. Não deveriam. Ela é um instrumento usado pelas pessoas.

Houve vários massacres antes de Columbine, mas o que fez dele um ícone foi a internet. Se fosse antes, o massacre poderia ser "editado" pela televisão como alerta de um exemplo que não poderia ser seguido. Este monopólio da informação não existe mais.

Atualmente, a internet tem sido usada como uma ferramenta importante nas transformações sociais de países como o Egito, a Líbia, a Tunísia, entre outros. Os jovens, com a internet, derrubam governos.

Os dois exemplos mostram como o uso da internet pode trazer resultados negativos ou positivos para a sociedade. O que não pode acontecer é fingir que a internet não existe. Não dá para acreditar que a sua utilização não altere as relações entre as pessoas.

Assim, o problema não seria apenas rever os papéis de instituições como a família, a escola e a religião. Trata-se sobretudo de entender que a maneira de saber (e sua relação com a autoridade) mudou. Não basta amarrar o filho dentro de casa, nem colocar guardas armados nas escolas e, muito menos, jogar bombas contra a própria população (como na Líbia). Admitir que as relações não são mais as mesmas é o primeiro passo para a reflexão que poderá apresentar soluções (mesmo que provisórias) para as crises atuais.

CONCEITOS E FATOS

O criticado George W. Bush prendeu e levou a julgamento, depois a pena de morte, o inimigo Suddan Hussein. O elogiado Obama deu ordens para assassinar Osama Bin Laden, que na hora da morte, de acordo com as fontes dos Estados Unidos, estava desarmado. Outro indivíduo desarmado, que estava na casa, também foi assassinado.

A delação levou a prisão de Suddan Hussein, dentro de um buraco, com mais de 800 mil dólares. A deleção, com tortura, levou ao assassinato de Bin Laden. Ele possuía dois celulares e 500 euros (nisto, ele foi coerente no seu ódio pelos Estados Unidos) costurados na roupa. Diferente de Suddan Hussein, estava numa casa de três andares, com seus familiares, lugar que teria passado os seus últimos anos de vida.

Nos momentos decisivos, as ações de George W. Bush, Suddan Hussein, Obama e Bin Laden não foram, ironicamente, o que se esperava deles. O que existiu em comum no episódios foi a traição, que em alguns lugares chamam de "deleção premiada", tentando transformar algo negativo numa virtude. Hoje, os trinta dinheiros recebidos por Judas seriam interpretados de outra maneira.

Os representantes do governo norte-americano falaram da tortura como algo "natural" no processo de obter informações de um preso. Obama foi aplaudido de pé, tanto por democratas como por republicanos, pelo tiro a queima roupa contra Bin Laden, sem chance de defesa ou possibilidade de julgamento. Os militares dos Estados Unidos invadiram outro país como se fosse o quintal de sua casa, sem avisar as autoridades locais. Tudo foi apresentado no noticiário como ações naturais de uma nação "civilizada" contra povos "bárbaros".

Nunca conceitos e fatos estiveram tão distantes.

FLEURY

Na minha infância, lembro de ver cartazes dos "terroristas" procurados. Perguntava aos adultos o significado daquilo e ninguém explicava direito. Era um assunto proibido.

Anos depois, entendi que as pessoas procuradas faziam oposição à ditadura militar. A proibição de conversar sobre o assunto tinha a ver com a repressão e a censura no período.

Provavelmente, quem mais simbolizou a repressão, na época, foi o delegado Fleury.

Se, por um lado, ele era condecorado pelas autoridades oficiais, por outro, não havia dúvidas quanto ao seu papel nas prisões arbitrárias e nos excessos da polícia. Ele foi, além de "chefe do Esquadrão da Morte, corporação clandestina de policiais, (...) indiciado em diversas ocasiões pela morte de supostos bandidos e pela tortura a presos políticos." (Almanaque Abril, Quem é Quem, p. 213) Nunca ficou preso. Morreu em 1979.

VOCÊ ACREDITA NO FUTURO?

John D. Biroc, baseado na teoria do caos, diz que não seria possível fazer um planejamento a longo prazo. Esse tipo de afirmação não tem a ver com a existência ou não de Deus. Trata-se de um problema dos homens.

Na medida em que cada indivíduo enfrenta, nele mesmo, os conflitos do id, ego e superego (ver Freud), quando ele relaciona com o outro, ele enfrentará outro conjunto de id, ego e superego. Os conflitos aumentam na proporção que ele tem contato ou influencia um número maior de indivíduos. Pense num casal, numa família, numa escola, na igreja, no sindicato e assim por diante.

São criadas a todo instante infinitas relações que se chocam umas com as outras e produzem resultados momentâneos, que são transformados em seguida em outros fatos. Como dizer que algo acontecerá com um indivíduo ou com a sociedade nos próximos cinco anos? Impossível.

Além dos conflitos dos indivíduos, que produzem, a todo momento, conseqüências inesperadas, existem ainda as mudanças da natureza, que podem destruir os planejamentos, por mais avançados que possam parecer, como no caso do Japão, com a Tsunami de 2011.

Não existe estabilidade. Não existe ordem. A mudança é constante e o seu resultado é imprevisível.

MÁQUINA DE PROBLEMAS

Além da predisposição genética, a personalidade de uma pessoa pode ser afetada por problemas como gravidez indesejada, abusos na infância ou "bullying" na adolescência. Esses últimos fatores tornaram-se comuns nas décadas recentes. A conseqüência pode ser percebida na violência que ocorre no cotidiano, como assassinatos por motivos fúteis, crise de autoridade ou massacres nas escolas. Muito adultos, hoje em dia, são resultados daqueles problemas.

A ideologia burguesa tenta conter o instituto de destruição e auto-destruição da maioria. A questão é que a reformulação deste discurso não tem acompanhado as transformações que acontecem na sociedade. Os indivíduos não acreditam mais nos "valores" como antigamente. Se antes, havia a crença no futuro, fosse ele no paraíso da religião ou no comunismo e na igualdade da política, atualmente existe uma desilusão e uma falta de perspectiva. A conseqüência deste processo é o individualismo, o que agrava ainda mais as crises.

As demissões de milhares de trabalhadores feitas pelas grandes empresas, para "aumentar o seu valor no mercado", mostram uma realidade cruel. Em outras palavras, não tem dado o resultado esperado a insistência no discurso de que o desemprego é um problema pessoal e não representaria uma crise social. Como lembra Maier, existe "a ilusão de estarmos protegidos. Nada pode acontecer: a paz, não a dos bravos, mas a dos gerentes de nível médio; sem surpresas nem aventuras - salvo, é evidente, a de ser despedido !"

Sim, a realidade bate de frente com a alienação ! Muitos ainda querem continuar na ilusão e no consumismo, mas são descartados pelo sistema que tanto acreditam. Os empregos desaparecem aos milhares. O que fazer com tantas pessoas sem trabalho? Culpá-las, como no velho discurso, não resolve muito ultimamente. Fingir que nada acontece? Talvez. Mas isso não impede assassinatos, assaltos, seqüestros, mesmo em lugares que antes as pessoas acreditavam que estariam seguras, como os condomínios e os shopping centers.

Culpar os outros não soluciona o problema, afinal, também existe a violência dentro de casa, com os homens que batem ou matam "por amor" ou os filhos que matam os pais por causa de dinheiro.

Ao longo do anos, não dar a devida atenção àqueles problemas - gravidez indesejada, abusos na infância ou "bullying" na adolescência -, foi, de certa forma, como criar uma bomba relógio que, depois, estaria pronta para explodir. O "depois" chegou. Esta é a realidade atual.

MEIO DE TRANSPORTE

Primeiro, imagino que uma caminhonete deve ser útil numa fazenda. Segundo, deve ser meio constrangedor estacionar uma "Hilux" na porta de uma bar ou num shopping center, Terceiro, cada uma vale 160 mil reais, o que explica a quantidade de roubos em São Paulo.

O que chama a atenção, claro, é por que um indivíduo andaria com um veículo daquele tamanho dentro da cidade. Algumas hipóteses. Ostentação: simples, que dizer: "AGORA, eu tenho esse dinheiro." Imagino que deve ser o mesmo mecanismo de alguém que anda por aí com correntes de ouro. Outra hipótese: "misdirection". Ou seja, quer disfarçar algo que incomoda, algo como ser baixinho, ser chifrado pela esposa, qualquer coisa do gênero.

Se a camionete estiver cheia de mulheres jovens e bonitas, provavelmente seriam todas as hipóteses juntas. Não tenho nada contra carros. Pelo contrário, trata-se de um meio de transporte importante. Mas é só isso: um meio de transporte importante.

OBSERVADOR

Eis o lema da série Gossisp Girl:

"You're nobody until you're talked about"

Lembra uma música do grupo The Sisters of Mercy, cuja letra afirma:

"I don't exit, when you don't see me."

Trata-se basicamente de uma velha suposição filosófica. No entanto, representa também uma possibilidade real:

"John Archibald Wheeler (...) esforça-se para demonstrar que o universo é real, em parte, porque nós o observamos. Talvez o cosmo não exista quando não olhamos para ele. (...) Seus argumentos se baseiam na leis (e em experiências de laboratório) da física quântica, as quais demonstram, por exemplo, que o comportamento e a trajetória de um elétron são sempre influenciados pelo observador." (Superinteressante, edição 181, p. 74)

Em suma, o indivíduo precisaria ser visto para existir e o que existe dependeria do seu olhar. Trata-se de uma hipótese razoável. Mas ainda é apenas uma hipótese.

PERDA DE MEMÓRIA

Alan e Charlie Harper (mais uma vez...) discutindo sobre a velhice, destacam problemas como a perda de memória, a solidão e a impotência.

A perda de memória é comum na terceira idade e não tem cura. Alguns médicos afirmam que os indivíduos deveriam exercitar o cérebro - com leituras e jogos de xadrez, por exemplo - como fazem com o corpo. Entretanto, numa sociedade na qual a alienação é uma das principais características, a maioria parece não levar este tipo de conselho a sério.

Anthony Hopkins ganhou o Oscar por sua interpretação no filme "O Silêncio dos Inocentes". Questionado sobre como chegaria a tal perfeição na interpretação de um personagem, ele afirmou que repetia a fala 250 vezes, que seria uma espécie de obsessão. Contudo, é esse trabalho que permite que a sua atuação seja admirada. Karl Marx gostava de aprender novas línguas para entender a atuação do proletariado em vários países. Ele também utilizava a técnica da repetição.

Os professores "modernos" condenam tal técnica, pois dizem que os alunos devem aprender e não decorar. Esquecem de dizer que eles mesmos em suas aulas ou palestras, usam esta técnica ou uma "cola" que aparece em forma de ficha ou com a utilização de retro-projetor ou data-show. Obviamente, a repetição é uma forma de reter uma informação. A reflexão sobre um conjunto de informações, possibilita o aprendizado.

Isso serve para estimular o cérebro e pode diminuir o risco de perda de memória. Entretanto, trata-se de um problema mais grave. Além dos fatores biológicos, deve ser considerado ainda a relação do indivíduo com o seu passado. Ele tem medo de lembrar algo? Abusos sofridos na infância, por exemplo, podem dificultar o acesso às lembranças de uma pessoa. A tentativa de bloquear um trauma ao longo de décadas pode contribuir para a perda de memória na velhice.

Heidegger já destacava a importância de conhecer o passado, para viver o presente e não temer o futuro. Sem isso, a pessoa pode desenvolver outro tipo de doença, ou seja, fugir do passado, além de criar insegurança no presente, acarreta uma forte ansiedade quanto ao futuro.

Certamente, a perda de memória e a ansiedade estão entre as principais crises que os indivíduos devem lidar na atualidade.

RODIN & MICHELANGELO

Já comentei sobre a importância de ter visto, em Madri, os quadros "Guernica" de Picasso e Las Meninas" de Velásquez. As esculturas que mais me chamaram a atenção foram "O Pensador" de Rodin em Paris e "Pietà" de Michelangelo na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em Roma.

A escultura de Rodin fica no museu com o seu nome, numa região perto da Champ Elisées. Lá estão outras obras importantes, como a monumental "la Porte de l'Enfer". As esculturas ficam distribuídas ao ar livre e o jardim é algo que impressiona pelo seu tamanho e a sua beleza.

Uma música do Dire Straits resume o sentimento de quem gosta de viajar: "girl, you look so pretty to me, like a spanish city to me..." A imagem que me vem a cabeça, neste momento, é a da cidade medieval de Toledo. Indescritível. Passear pela Europa, visitando principalmente as igrejas, os castelos, os museus e os monumentos, significa conhecer mais sobre a história e a cultura do mundo ocidental.

REFLEXÃO E SILÊNCIO*

* Este texto foi publicado anteriormente em: http://profelipe.weebly.com/

As pessoas não entendem uma atitude que não possa ser enquadrada nas ideologias do trabalho e do consumismo. Precisar do silêncio, ficar isolado em casa, lendo e escrevendo parece, aos olhos da maioria, algo estranho. provavelmente, como diria Byron, trata-se da "afirmação da vontade do indivíduo que não se realiza no mundo mundo e se volta à sua interioridade como única forma possível de expressão."

Sêneca associa o isolamento aos infortúnios do destino, quando "a alma deve recolher-se a si mesma (...) ela não se ressente das perdas materiais e interprete com benevolência até mesmo as coisas adversas."

Os conselhos de Sêneca visam a busca da tranqüilidade. São importantes e deveriam ser lembrados na atualidade, quando se valoriza a acumulação de capital e a ostentação.

Acredito que o processo de reflexão se realiza melhor com simplicidade e humildade. Escolher o silêncio, algumas vezes, é fundamental. O convívio social deve ser retomado, mas no momento que o indivíduo achar efetivamente adequado.

FILOSOFIA DE BAR: TRABALHO E CAOS

Por que um homem trabalha tanto? Para ter mais dinheiro... Para quê? Para comprar coisas... Para quem? Sim, essa é uma pergunta interessante. O fascista e machista Zhirinovsky tem uma hipótese:

"Os homens procuram dinheiro para o prazer da mulher, para comprar presentes para ela. As mulheres induzem os homens ao crime. (...) Eles não precisam de dinheiro para eles mesmos. Eles precisam para comprar presentes caros." (Playboy, March 1995, p. 55 e 154)
{ "[Men seek] money for woman's pleasure, to buy her gifts. Women push men to crime. (...) They don't need money themselves. They need it for expensive presents." }

É verdade? Em parte... talvez... No entanto, o fato é que trata-se de uma hipótese simplista e incompleta. A ideologia do excesso de trabalho no capitalismo está associada a várias temáticas além do consumismo, como a fuga de si, a culpa e a alienação.

Como escrevi em outros textos, o conceito de trabalho depende de cada sociedade e da época histórica. Não é um conceito universal. Aliás, se for considerar as mudanças na história da humanidade, ele foi percebido mais como algo negativo, como uma obrigação e uma punição, do que como algo nobre, associado a dignidade.

O problema atual do capitalismo, depois de ter criado uma imagem positiva do trabalho, é se deparar com uma realidade onde não existe trabalho para todos. O que fazer com o número cada vez maior de desempregados que acreditam que a vida só teria sentido no trabalho? Não trata mais de admitir o "exército de reserva". O cenário no século XXI ultrapassou as necessidades do capital dos séculos XIX e XX. Do ponto de vista da produção, não faz mais sentido um indivíduo trabalhar durante 8 ou 10 horas por dia. Mas, o que fazer com ele? Pior: como mudar uma realidade na qual o trabalho ocupava o lugar central?

Fugir do ócio e não encontrar trabalho - os empregos estão desaparecendo... - é, num primeiro momento, um problema de cada indivíduo, afinal "(...) as multidões superqualificadas já mendigam funções obscuras dos quadros administrativos." (Maier, p. 16) Quando isso torna-se comum e milhares, milhões de pessoas encontram-se na mesma situação, torna-se um problema social. Não entender que a antiga mentalidade não serve mais ao capitalismo significa caminhar em direção ao caos.

FILOSOFIA DE BAR: TRANSPORTE DE CARGA

A vida de um animal - o homem, inclusive - representa apenas um transporte de carga genética, visando a evolução (melhoramento) da própria espécie.

O instinto do animal vem desta carga genética. É inconsciente.

"Il carattere empirico, como mero impulso naturale, è in sé irrazionale." ( Schopenhauer L'Arte de Essere Felici, Milano, Adelphi, 1997, p. 32)

No que diz respeito a herança genética, no caso do homem ("X", por exemplo), significa dizer que ele não sabe sobre o conteúdo das vidas passadas.

Não são as vidas passadas de "X". São de "Y", "Z" e assim por diante.

"X" simplesmente aproveitou, de maneira inconsciente, o melhoramento da espécie proporcionado por "Z" e os outros, para agir, quando necessário, por instinto.

"X" reage, para sobreviver, ao que é oferecido pelo seu ambiente.

Desta forma, o ambiente proporciona a mudança em cada geração, que é passada com a herança genética.

PICASSO E VELÁSQUEZ

Gosto de arte. Quando estava em crise com minha pesquisa no doutorado, andava pelos museus de São Paulo, para refrescar a cabeça. Quando fui a Paris, sabia da importância da Mona Lisa, o mesmo aconteceu quando fiquei, em Madri, diante dos quadros de Picasso e de Velásquez. Sabia a impressão que Las Meninas havia deixado em Michel Foucault:

"C'est que peut-être, en ce tableau, comme en toute representation dont il est ainsi dire l'essence manifestée, l'invisibilité profonde de ce qu'on voit est solidaire de l'invisibilité de celui qui voit, malgré lés miroirs, les reflets, les imitations, les portraits." (Les Mots et Les Choses, p. 31)

É impossível não pensar na idéia de representação diante do quadro de Velásquez. Por outro lado, não há como negar a grandiosidade da obra de Picasso. É uma "viagem": ver o quadro todo ou observar atentamente um detalhe, um "momento", perceber, como diz Marshall Berman, "(...) as figuras de Guernica, de Picasso, lutando para manter viva a própria vida, enquanto emitem o seu grito agudo de morte." (Tudo que é Sólido Desmancha no Ar, p. 30)

Trata-se de uma experiência única passear pelo corredores do Museu do Louvre, do Museu Britânico ou do Museu do Prado. O mesmo pode ser dito ao visitar a Capela Sistina ou outras catedrais na Europa.

Diante de uma obra de arte, o indivíduo muda o humor, fica, por um instante, diferente. Acontece algo. É uma experiência, para muitos, tranqüilizadora.

ALIENAÇÃO

O que irrita uma pessoa? Uma personagem do filme "Les Invasions Barbaries" dá uma boa dica:

" L'inconscience. Les gens qui sont incapables de voir la réalité. "

Sim, a alienação irrita. As pessoas são incapazes (como diz a personagem) ou se recusam a ver a realidade. Maier afirma que "a maioria é incapaz de ver a sua dignidade reconhecida." Será? A maioria sabe (ou quer saber) o que é dignidade? Nelson Rodrigues, discutindo sobre o conteúdo de suas peças, afirmou:

"(...) que o espectador burro não saque a diferença, isso é uma fatalidade do espectador, ouviu? Eu não sou culpado da burrice humana; aliás 99% da criatura humana é imbecil."

Fatalidade? Incapacidade? Recusa? A alienação é incentivada em nossa sociedade. Saber menos garante a concentração de renda para uma minoria. O objetivo final, para utilizar termos marxistas, é econômico. Neste sentido, a alienação é produzida pela ideologia, que chega aos indivíduos através dos meios de comunicação de massa, das escolas, das igrejas, entre outras instituições.