quarta-feira, 23 de junho de 2010

ILUSÃO E REALIDADE

As coisas não são o que parecem ser. Nada de novo nesta afirmação. Desde Platão, com seu mito da caverna, passando pelo conceito de alienação em Marx ou mesmo a concepção de inconsciente de Freud, existe esta preocupação.

A divisão entre o que seria e o que é de fato a realidade foi tratada por muitos pensadores e mesmo por produtos de massa, como o filme "Matrix". Quase sempre são dois momentos: um onde a vida é bela e outro no qual o mundo é cinza e cheio de problemas e sofrimentos. Uma música, em especial, retrata esta temática na vida de um indivíduo - "The Logical Song" do Supertramp.

Primeiro, a beleza e a descoberta da juventude:

Quando eu era jovem
Parecia que a vida era tão maravilhosa
Um milagre, oh ela era tão bonita, mágica
E todos os pássaros nas árvores
Estavam cantando tão felizes
Oh alegres, brincalhões, me observando

Depois, aparecem os problemas da vida adulta:

Mas aí eles me mandaram embora
Para me ensinar a ser sensato
Lógico, oh responsável, prático
E me mostraram um mundo
Onde eu poderia ser muito dependente
Doentio, intelectual, cínico

(Tradução: http://letras.terra.com.br/)

Aliás, três filmes mostram o rompimento destes dois mundos na perda do emprego: "Leaving Las vegas", "Fight Club" e "American Beauty". Ser despedido ou abandonar o emprego simboliza, utilizando a letra do Supertramp, "mas aí eles me mandaram embora (...) e me mostraram um mundo onde eu poderia ser muito dependente, doentio, intelectual, cínico." Trata-se de um choque para o indivíduo, que acreditava que trabalhando e seguindo as regras, conseguiria resultados positivos na vida. O choque tornar-se crise. Muitos desistem. Em "Leaving Las vegas", o personagem fez a opção pelo alcoolismo. No filme "Fight Club", o excesso, para fugir da crise, foi a luta. Já em "American Beauty", o caminho encontrado foi a paixão platônica por uma garota adolescente.

O problema permanece na nossa sociedade. As pessoas se escondem atrás de suas "obrigações". Elas inventam várias atividades. Assim, não precisam pensar na própria vida.

Os projetos dos jovens são sempre os mesmos: concluir uma faculdade, possuir casa e carro, casar e constituir família. Na crise da meia idade, os filhos cresceram e não precisam mais dos pais, a qualificação que veio com a conclusão da faculdade não parece ser garantia de empregabilidade e o desemprego pode comprometer o pagamento dos financiamentos da casa e do carro.

Assim, a vida parece ser mais complexa e insegura. Pior, com o tempo, desaparece o prazer da novidade: os brinquedos no natal, o primeiro beijo, as festas da faculdade, entre outras coisas. É criado o impasse que o indivíduo deve enfrentar, aquilo que, de forma direta ou indireta, foi tratado nos três filmes citados. Alguns optam pela psicanálise, anti-depressivos, alcoolismo, excesso de trabalho ou um caminho muito comum: a religião. Cada um procura manter viva a antiga "ilusão" - da criança e do adolescente - como se nada tivesse acontecido.

No fundo, contudo, cada pessoa sabe que uma fantasia não resolve a simples realidade do ser humano: a vida não tem sentido e a certeza mais óbvia é a morte. Ela existe para os alienados e para os críticos, para os crentes e para os cínicos. A maioria a vê pelo lado negativo. Tentam adiá-la. Outros a enxergam pelo que ela é: um fato na vida de um indivíduo. Nada mais do que isso. Esta constatação é uma conclusão positiva diante de uma vida que não apresenta a mínima lógica e, muito menos, respostas satisfatórias.